terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Plantão de Natal

Muitas pessoas indagam quando um plantão de 24 horas é cansativo ou não. Eu quase sempre responderia com outra pergunta. Sob qual(is) critério(s) estamos avaliando o trabalho?

Para quem gosta do que faz, fica até difícil saber se o indivíduo está trabalhando ou se divertindo! Deixarei que os leitores avaliem a narrativa das atividades do plantão do dia 24 para o dia 25.

Prédio onde funciona a Perícia Oficial de Alagoas.
A equipe estava composta por mim e pelos peritos criminais Cavalcante e Glauco. A equipe da Força Nacional (dois peritos criminais e um papiloscopista) estava à disposição para atender apenas casos de homicídios na região metropolitana na proporção de dois casos para cada um que também atendêssemos. Quaisquer outros casos e em qualquer outra região do Estado de Alagoas eu e meus dois colegas teríamos que dar conta...

Logo cedo houve um chamado a 110 km da capital. Troquei de lugar no rodízio com o Cavalcante, mas mesmo assim fui atender uma colisão bicicleta x veículo automotor no bairro vizinho.

Primeiro local de atendimento - acidente com bicicleta.
O sol estava muito forte e para evitar queimaduras eu me preveni com protetor solar fator 60 no rosto e orelhas! Infelizmente a viatura do IC estava com o ar-condicionado quebrado e assim suei até a extremidade da gravata...

Por volta das 10h30 retornei ao IC. Aproveitei para comprar pilhas para a minha trena eletrônica e aparelho GPS (embora exista uma unidade de cada aparelho na maleta da Senasp, continuo utilizando os meus equipamentos por mera comodidade).

À tarde fiz pesquisas na internet e aguardei a ceia de Natal preparada e organizada pelos próprios plantonistas, notadamente o motorista Messias e sua esposa que cozinhou quase tudo que estava na mesa. Confraternizamos logo às 19h pois não sabíamos como seria o restante do plantão.

Parte da equipe plantonista: da esquerda para a direita: Paula, Luiz, Claudevan, Glauco, Luciana Paulo, Tomohiro, Cavalcante, Ideval, André, Messias e sua esposa Cris.

Ceia viabilizada com a contribuição dos plantonistas.

Confraternização e espírito natalino no plantão.

Às 20h55 começaram as chamadas para o interior. Uma em São Sebastião (122 km) e outra em Piaçabuçu (134 km). Como cada local dista cerca de 75 km entre si, então eu e o Cavalcante saímos juntos numa viatura apenas com o motorista. Eu faria o levantamento fotográfico dos dois locais e voltaria dirigindo a viatura para poupar o motorista.

Segundo local - colisão motocicleta x veículo em rodovia.
(Notícia do fato - clique aqui ou aqui)

Levantamento de homicídio em Piaçabuçu.
(Notícia do fato - clique aqui).
Foram cerca de 327 km fazendo o circuito capital - São Sebastião - Piaçabuçu - capital. Saímos às 21h43 do dia 24 e retornamos ao IC às 4h41 do dia 25.

Ao chegar no IC já havia outra chamada para a capital, mas como eu estava cansado pedi ao colega Glauco para se adiantar no rodízio fazendo a minha vez. Em menos de meia hora apareceu nova chamada para o interior e assim só tive tempo de descarregar os dados dos levantamentos anteriores.

Às 06h07 saímos eu e o motorista para o povoado Ouricuri, município de Atalaia, a 73 km de Maceió.

Terceiro atendimento - homicídio por arma branca.
Eu já havia guiado a viatura por 134 km de madrugada, tentava manter os olhos abertos, mas me peguei várias vezes com a boca aberta e cochilando. O motorista conseguiu dormir duas horas durante a madrugada. Eu passei a chupar confeitos de menta para tentar acordar.

Por volta das 7h30 finalizei o levantamento, e numa região que não tem sinal de celular, iniciamos o retorno para a base do Instituto de Criminalística.

Voltando para o IC às 7h30. Tempo nublado com previsão de chuva.
Faltando meia hora para terminar o plantão recebo uma mensagem de celular do Cavalcante informando que havia novo local e justamente no meu trajeto de retorno. E mais, já era a minha vez novamente no rodízio! Ele havia atendido uma outra chamada em Maceió (notícia do local atendido pelo Cavalcante - clique aqui).

Quarto local de atendimento com chuva fina - viaturas da PRF e do IML.

Vista parcial da colisão de três veículos com duas vítimas fatais no local.
Esse foi um dos plantões que nos mostram que nunca devemos baixar a guarda nem a precaução. Infelizmente faltou uma pulseira de identificação de cadáver para a segunda vítima. Uma segunda viatura saiu do IC e percorreu 31 km para nos levar mais três (precaução, lembra?).

Não havíamos levado guarda-chuvas disponíveis no IC, mas sempre levo um comigo na maleta. Consegui proteger a câmera da chuva que suportou anteriormente a poeira dos canaviais de Piaçabuçu.

Antes de deixar o local, tive o prazer de rever e trabalhar com a equipe do colega Fábio Esperon, agente da Polícia Civil, que conduziu eficientemente a coleta de informações no local junto aos cidadãos e demais profissionais que precisam atender eventos desta natureza.

Por volta das 09h30 deixei o local rumo ao IC, ou seja, já havia extrapolado uma hora e meia além do final do meu plantão. Nem por isso simplesmente passamos pelo IC para voltar para casa. Ainda temos de devolver a viatura e equipamentos que porventura tenhamos utilizado. Precisamos também preencher os relatórios de plantão no sistema SISGOU da Secretaria de Defesa Social de Alagoas:

Janela de login do sistema de informações de Alagoas.
Os levantamentos enumerado nesta publicação foram aqueles que ficaram sob minha responsabilidade. Os outros integrantes da equipe também se responsabilizaram por outros locais. Ao todo, até a última consulta, foram 12 locais de atendimento das 8h do dia 24 até às 8h do dia 25, dia de Natal.

Relatório da equipe plantonista: 12 levantamentos.
Por último, e não menos importante, ainda temos de processar os materiais coletados. Infelizmente isso eu deixei para o próximo expediente. Já passava do meio-dia quando consegui deixar o IC para almoçar com a família no dia de Natal.

Apenas por mim foram percorridos 476,4 km entre idas e voltas de 05 locais de atendimento (sendo um de responsabilidade do Cavalcante), 399 fotografias (sendo 46 do levantamento do Cavalcante), 5 itens coletados para exames (entre eles uma arma de fogo) e vários pertences repassados para os policiais.

A partir daí terei de editar as fotografias, processar os vestígios, solicitar exames complementares se necessário, redigir os laudos e expedi-los junto ao IC/AL.

Infelizmente o feriadão natalino não foi tão calmo em Alagoas (veja notícias dos acidentes aqui e aqui).

O plantão foi cansativo na medida em que particularmente não dormi hora nenhuma, salvo breves cochilos na viatura (quando estava de passageiro!) e só deixei o prédio do IC cerca de 4 horas depois da hora normal de saída.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Prestação de contas (laudos em novembro)

Continuei designado em novembro para produzir laudos fora do plantão.

A meta continuou em 24 laudos, mas como houve uma demora para minha designação definitiva entre ficar "dentro" ou "fora" do plantão e, no final do mês, dia 27, recebi convite para uma palestra fora do estado, então subtraí algum tempo desta produção. Entreguei 16 laudos no último dia 22 de novembro.

Clique na imagem para ampliá-la.
Para produzir os 16 laudos manipulei 879 fotografias das quais selecionei e editei 479 e as inseri em 311 páginas. É um "livro" menor que o do mês de outubro!

Basicamente, neste lote, cada laudo possui 19 páginas e carrega 30 fotografias cada um.

A manipulação de um menor número de fotografias do levantamento "bruto" deste segundo lote decorre do fato de que nos primeiros anos da perícia eu tirava poucas fotos. A razão é por conta da menor sofisticação da técnica de levantamento e da menor capacitadade do equipamento usado na época. Lembrando que neste segundo lote a maioria dos laudos eram mais antigos que no primeiro lote.

Atualmente quase todos os laudos de morte violenta, p. ex., tomam 30 tomadas fotográficas no laudo e preenchem cerca de 20 páginas. O levantamento "bruto" de imagens fotográficas chega a três vezes esse número de fotos no laudo por questões de repetição de segurança. Gráficos, esquemas e mapas tomam mais espaço no texto. Isso quando o caso não requerer tratamento diferenciado.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dia do Perito Criminal!

Ferramentas periciais - Teresina/PI - segunda parte


Dando continuidade à exposição "Ferramentas periciais aplicadas ao local do crime e ao corpo de delito - o corpo fala", adentramos especificamente no ferramental físico da perícia criminal.


O famoso personagem da literatura inglesa já utilizava sua consagrada ferramenta: a lupa. Como dissemos, o vestígio, sinal físico que vincula objetos numa cena de crime, precisa ser percebido pelos sentidos do investigador, estejam eles desaparelhados ou aparelhados. Evidentemente os resultados com os sentidos aparelhados são bem mais frutíferos.


Tanto na literatura especializada quanto no imaginário cinematográfico diversos equipamentos já nos foram apresentados de forma realística ou fantasiosa. No entanto, foi em setembro de 2010 que o governo brasileiro, pelo Ministério da Justiça, enfatizou um padrão para a investigação material. A Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP, configurou e doou maletas com equipamentos que foram considerados como básicos para exames em locais de crime.

Apresentação da maleta da Secretaria Nacional
de Segurança Pública - SENASP em Brasília.

Em Alagoas as maletas chegaram em outubro do mesmo ano (veja mais aqui) e os peritos tiveram treinamento três meses depois (veja mais aqui e aqui).

Distribuição dos itens da maleta.

O conteúdo da maleta foi uma aquisição do Ministério da Justiça para ser distribuído entre os governos dos estados, por isso, objeto de licitação. A empresa prestadora dos itens mantém outros produtos à venda e tem, inclusive, a lista completa dos itens da maleta (veja em Conecta190).

Entre os principais itens estão a câmera fotográfica digital, a trena eletrônica à laser, um aparelho GPS (Global Position Systen) e o conjunto de lanternas forenses. Há ainda um conjunto de pós reveladores de impressões digitais e um computador com um programa específico de identificação.

Vale lembrar que estes itens fazem parte de um instrumental portátil para uma equipe de perícia criminal que se desloca para locais de crime. Existem outros equipamentos mais vultosos e poderosos que exigem instalações de laboratório ou meios de transporte adequados.

Máquina fotográfica digital - o registro fotográfico.

Em um passado não muito distante, os registros fotográficos ainda eram resolvidos com o uso das máquinas analógicas e ou providas de filme fotográfico. Com o advento da tecnologia e as enormes vantagens do registro eletrônico de imagens (ainda que se fale sobre a relativa facilidade de manipulação) as máquinas digitais superaram muitas dificuldades como o tempo de acesso às imagens e a limitação de exposições.

Mas não basta "apontar e disparar". É preciso um registro metódico do que é essencial numa investigação pericial e policial. A polícia exige certas vistas da cena e a perícia exige outras.

Num regramento muito simples, três tomadas básicas são exigidas para se enriquecer minimamente um relatório. Inicialmente tiram-se fotos "panorâmicas" que ilustram os arredores e todo o conjunto da cena com todos ou a maioria dos elementos relevantes. Num segundo tempo ou concomitante, faz-se uma aproximação da cena e passa-se a tirar fotos aproximadas ou "de relação" onde conjuntos parciais dos elementos relevantes são agrupados numa mesma foto. Relacionam-se itens por sua vinculação fática ou lógica. É a narrativa "fotográfica" dos exames periciais, que podem até corresponder com a conclusão dos exames. A última tomada é a "de detalhes" ou "close". É a vista ampliada a ponto de se perceber apenas o detalhe. Na maioria das vezes não se sabe onde está este detalhe, por isso a importância da sequência. Primeiro vista geral, aproxima-se e percebe-se onde está determinado vestígio e, por fim, uma vista detalhada que mostra integralmente o vestígio que se buscava e que, na maioria das vezes, só é reconhecido a poucos centímetros de distância.

Esquema didático da sequência de tomadas fotográficas.

Vista a cena, é necessário localizá-la dentro do espaço urbano ou rural. O aparelho GPS é a ferramenta por excelência para este fim. Ele funciona como um mapa dinâmico. Pode mostrar sua localização em tempo real e assim, até guiar a equipe até o local. Uma vez no local dos exames, registram-se as coordenadas e se pode arquivar os "pontos" onde foram feitos exames e que, em geral, correspondem a locais de ações delituosas. Posteriormente pode ser gerado um "mapa do crime" e auxiliar o governo na identificação e gestão da criminalidade.

Aparelho GPS incluso
na maleta da SENASP.

O GPS ainda pode registrar o próprio itinerário e assim construir e confrontar trajetos possíveis ou alegados por suspeitos e vítimas durante reproduções simuladas, p. ex.

Visto e situado o local, é necessário partir para medidas mais próximas dos elementos materiais decorrentes da ação delituosa. Localizar o cadáver, as vias de acesso, os móveis ou equipamentos urbanos nos logradouros é tarefa da medição em local de crime e isso pode ser feito facilmente com a trena eletrônica à laser (figura abaixo).

Trena eletrônica à laser.

Normalmente se imagina a medida de um local com réguas e trenas de fitas. De fato era assim que fazíamos e ainda se faz em muitos lugares no Brasil. A trena eletrônica permite que só um operador faça todas as medidas de modo muito simples e rápido.


Basta encostar o aparelho numa superfície e apontar o laser para a outra que se deseja medir, conforme as figuras acima. A medida sai imediatamente no visor. É o típico "apontar e disparar".

Obviamente toda ferramenta tem suas vantagens e desvantagens. Em locais de pouca reflexibilidade ou iluminação natural intensa a dificuldade do aparelho para medir aumenta. É preciso insistir ou buscar superfícies reflexivas adequadas. O alcance do equipamento também precisa ser respeitado.

Uma evolução da trena à laser é o scaner tridimensional de local de crime. O aparelho funciona como uma trena à laser mas gira sobre seu próprio eixo em todas as direções fazendo muitas medições a ponto de gerar uma "nuvem" de pontos que representará toda a cena.

Equipamento de escaneamento tridimensional de locais de crime.

Uma explicação interessante e sucinta encontrei no vídeo abaixo. Ele fala por si e por isso recomendo que assistam.

Vídeo sobre alguns equipamentos utilizados pela Segurança Pública


As lanternas de luzes forenses foram uma introdução bastante interessante da Senasp. De uma forma barata foi possível fazer com que uma boa quantidade de peritos tenham contato com essa tecnologia.

Em Alagoas fizemos experiências e tivemos treinamentos que podem ser acompanhados por estes links: Oficina de luz forense - preparação e Oficina de luz forense - apresentação.

Recentemente recebemos o equipamento Superlite 400 que não deixa de ser uma lanterna, mas com uma configuração diferenciada com relação à autonomia da bateria e potência da lâmpada. Também neste blog já fizemos referência ao equipamento Superlite 400.

Outros insumos da maleta incluem reagentes químicos para detecção genérica de sangue e específico para sangue humano. Também existem reagentes químicos e pós para revelação de impressões papiloscópicas latentes.

Com relação à revelação de impressões papilares com uso de pós, publiquei algumas experiências durante um trabalho de um colega perito criminal. Veja em Levantamento papiloscópico - pó branco e fosforescente. Também tive a oportunidade de usar a estratégia de luzes rasantes para obter contraste em impressões digitais. Veja em Levantamento papiloscópico "fotográfico".

CONCLUSÃO

O ferramental em perícias criminais não pode se resumir à proposta da maleta da Senasp. A maleta foi um valioso impulso e promotor de um padrão que vale a pena expor e discutir. Um dos maiores desafios da perícia brasileira não é utilizar a última tecnologia em seus trabalhos, mas nivelar, por cima, o trabalho de cada perícia dos estados. Precisamos estabelecer uma confiabilidade nacional e o Ministério da Justiça proporcionou uma parte deste objetivo.

Assim que possível, publicarei comentários e notícias sobre outras ferramentas que são e podem ser utilizadas na perícia criminal. Também discutirei a metodologia, outro desafio da perícia brasileira.

Um pouco de humor!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ferramentas periciais - Teresina/PI - primeira parte

A exposição no Ministério Público do Piauí teve por título: "Ferramentas periciais aplicadas ao local do crime e ao corpo de delito - o corpo fala".


Falar didaticamente em "ferramentas", exige uma definição preliminar e simples do termo. Ferramenta pode ser entendida como "um dispositivo que forneça uma vantagem mecânica ou mental para facilitar a realização de tarefas diversas". E falar em "realização de tarefas" (com ferramentas) não dispensa o conhecimento da técnica que é: "o procedimento ou o conjunto de procedimentos que tem como objetivo obter um determinado resultado."

A investigação material atual desenvolvida pela perícia criminal exige ferramental específico para atingir seus resultados. Curiosamente, pelas experiências anteriores, neste mesmo curso de capacitação, percebemos que muitos atores do Sistema de Segurança ainda desconhecem a investigação material desenvolvida pelos peritos criminais.

Por isso, antes de esmiuçar o que seriam ferramentas periciais, vale fazer essa introdução a respeito de criminalística.


Em Alagoas a perícia criminal é desenvolvida pela Perícia Oficial por meio de três instituições: Instituto de Criminalística, Instituto Médico Legal e Instituto de Identificação. O primeiro com os peritos criminais, o segundo com os médicos legistas e odontolegistas e o último com os papiloscopistas. Em cada órgão pode existir quadro complementar de auxiliares. Hoje, dezembro de 2012, são 48 peritos criminais, 31 médicos legistas, 5 odontolegistas, 5 papiloscopistas e 15 técnicos de necropsia além de agentes administrativos e policiais civis cedidos para auxiliar nos trabalhos periciais.

Embora nosso imaginário tenha sido povoado pelos inúmeros seriados americanos sobre o tema, podemos, muito sucintamente, afirmar que a criminalística é a disciplina que reconhece e interpreta os sinais do crime. A perícia criminal é o exercício da criminalística desenvolvido pelos órgãos públicos de investigação material e sua fundamentação legal está no artigo 158 do Código de Processo Penal:

"Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado".

Desta forma, tomado conhecimento de uma ação delituosa, se ela deixou vestígios (sinais físicos sensíveis aos sentidos humanos), o exame pericial será indispensável. Se feito diretamente, o perito entra em contato direto e pessoalmente com os sinais. Se feito INdiretamente, então o perito utiliza intermediários para examinar a ação delituosa (fotografias de um acidente, p. ex.).

O corpo de delito pode ser entendido como um objeto unitário (arma, roupa, marca, cadáver etc.) e também como um conjunto de objetos decorrentes do crime (um cômodo repleto de sinais de luta corporal como móveis quebrados, manchas de sangue, armas etc.). Numa concepção ainda mais ampla ele pode abranger até circunstâncias abstratas da ação delituosa como aspectos sociais ou psicológicos, mas neste caso escapa do campo de atuação do perito criminal que só maneja aspectos físicos.

Vale lembrar que na expressão "corpo de delito" o termo "corpo" não se confunde com "cadáver". Um cadáver e uma faca, p. ex., são corpos. Se forem decorrentes de alguma ação delituosa serão ambos considerados corpos de delito e farão parte de uma investigação.

Mesmo desenvolvendo todos os exames possíveis não significa dizer que o perito criminal irá obter todos os esclarecimentos do crime. O trabalho de investigação exige a participação de diversos atores. Na tabela abaixo vemos pelo menos três deles que atuam na fase inquisitorial da persecução criminal. Juízes e promotores possuem funções na fase judicial.

Atuação de alguns segmentos da Segurança Pública.
O quadro acima não mostra, mas faço questão de ressaltar a valiosa contribuição da Polícia Militar. Como uma de suas funções é a de policiamento ostensivo, geralmente, na esmagadora maioria dos casos, são os policiais militares que primeiro abordam uma cena de crime nos logradouros públicos e participam decisivamente da preservação do local de crime.


A criminalística possui alguns objetivos específicos. Didaticamente apresentamos três:

1) estabelecer o fato (comprovar o que houve);
2) estabelecer os meios e os modos (dizer como aconteceu); e,
3) estabelecer a identidade (identificar quem agiu).

Objetivo geral da Criminalística
O objetivo geral da criminalística é fornecer elementos de convicção de ordem técnica e científica ao Judiciário.


Na busca de seus objetivos a criminalística possui seus princípios. Também didaticamente, apresentamos apenas três para compreensão básica de seu funcionamento:

1) princípio da identidade: afirma que dois corpos físicos podem ser indistinguíveis, mas nunca serão idênticos. Com isso podemos "rastrear" os corpos por suas sutis diferenças, ainda que sejam muito semelhantes.

Semelhantes sim, idênticos não.

2) princípio da Troca de Locard: dentre as várias explicações, fiquemos com esta: "quando dois corpos entram em contato, um transfere material para o outro". Ou seja, toda interação física deixa sinais de sua ocorrência. Um impacto de dois veículos sempre promove transferências de material, tintas e sujidades de tal forma que não há como negar a ocorrência do impacto.

Também conhecido como "princípio da transferência".

3) teoria da ligação: a teoria da ligação é uma consequência lógica do princípio da transferência. Ela afirma que o vestígio (ou sinal físico da ação delituosa) gera uma vinculação entre dois corpos. Esta vinculação gera um itinerário: o primeiro corpo atingiu o segundo. Se perseguirmos toda a sequência de vínculos podemos observar o itinerário completo e assim narrar toda a ação, mesmo sem ter presenciado a ação delituosa ou os momentos que antecederam um acidente automobilístico, p. ex.

Esquema ilustrativo da teoria da ligação.
A explicação didática da teoria da ligação induz a imaginarmos que apenas um vestígio tem o condão de unir todos os elementos da cena de crime (vide figura abaixo).

Esquema didático de vinculação.

De fato o vestígio tem a finalidade de vincular elementos, mas é imprescindível asseverarmos que nenhuma cena de crime se reduz a um único vestígio que explique toda a ação delituosa. Todo investigador, seja ele perito criminal ou agente policial, sempre trabalha com um conjunto de elementos vestigiais (vide figura abaixo).

Esquema realístico da teoria da ligação.

Nesta primeira parte da exposição pretendemos fazer uma breve apresentação da criminalística uma vez que muitas pessoas ainda desconhecem o que seja exatamente o trabalho do perito criminal quando se lembram dos seriados americanos ou de figuras heróicas dos filmes policiais.


Na próxima publicação abordaremos as principais ferramentas da perícia criminal.

Observação: quando nos referimos a sermos "didáticos", na verdade simplificamos o conteúdo em sua numerosidade ou profundidade para facilitar a assimilação. O espaço é pequeno e o objetivo não é ser exauriente. Existem outras fontes que podem ser facilmente pesquisadas e oportunamente ofereceremos algumas neste mesmo veículo. Vide este link, p. ex.

Capacitação no Piauí – ENASP

Convidado pela Coordenação do Grupo de Persecução Penal da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública – ENASP para auxiliar na capacitação dos agentes do Sistema de Justiça concernentes à investigação e processamento dos crimes de homicídio contribui no último dia 29 de novembro no Curso de Capacitação na Persecução Penal do Crime de Homicídio – Módulo I, no Ministério Público do Piauí. A aula foi sobre o tema “Ferramentas periciais aplicadas ao local do crime e ao corpo de delito – o corpo fala”.

Em Alagoas já foram ministrados os módulos I e II do mesmo curso nos quais participei como aluno. Pude constatar o enorme benefício da participação dos diversos atores do Sistema de Justiça em uma mesma “sala de aula”. No entusiasmo destas aulas publiquei no blog uma síntese das palestras. Veja abaixo link para os dois módulos executados em Maceió/AL.



Módulo I - Clique aqui
Módulo II - Cliqui aqui

Agora, como palestrante, pude estender esse entusiasmo para os profissionais do Estado do Piuí e para complementar aquela exposição, publiquei uma síntese da aula, embora uma parte da exposição já tenha sido tratada em publicações anteriores deste mesmo blog.


Entre os representantes dos delegados e promotores do Estado do Piauí. Veja mais aqui.

Viagem à Teresina - PI

Convidado para fazer uma exposição sobre criminalística no Estado do Piauí, optei, em acordo com a assessoria da instituição promotora do evento, fazer a viagem por terra. E que terra!

Itinerário de Maceió/AL a Teresina/PI.
Foram 1.123 km de distância e 2.257,4 km no total, somando percurso dentro de Teresina.

Quem realmente quiser ter noção do sertão nordestino, é uma viagem interessante.

Distância entre o hotel e o local do evento: 2,5 km.
As distâncias e itinerários foram preliminarmente calculados pelo Google Maps. O primeiro traçado da viagem, também. Mas tive de fazer uma correção por causa de uma estrada de terra selecionada pelo Google.

O tempo da viagem também foi otimista pela internet. Como utilizei um carro de motor mil, tive um pouco de dificuldade, mas nada que não fosse administrável. Consumo total: 13,2 km/litro. O asfalto praticamente não continha falhas.

Fizemos uma pernoite em Serra Talhada, tanto na ida, quanto na volta. Sempre conduzimos o veículo pelo dia.

O cálculo preciso da viagem foi feito pelo GPS Garmin, modelo 60 CSx, que já me acompanha há mais de cinco anos em perícias no IC/AL. Pude comprovar que o odômetro do veículo estava majorado em 6%.