segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Plantão do dia 24 de fevereiro

Era uma vez um plantão, um perito e uma vítima.

Acionado, chamei o motorista e segui 73 km até o local.

Curiosamente o BO não estava muito claro quanto ao local exato, mas a prática manda perguntar pelo caminho, aos transeuntes e, melhor que ninguém, ao PM instalado em seu "box" na beira da rodovia estadual. O local foi para dentro das canas (de açúcar), na zona rural. Disseram que o motorista bebeu e sobrou na curva.

Onze quilômetros para fora da rodovia, cheguei, eu e o motorista, sozinhos no local. Sozinho é forma de dizer. Os curiosos, passantes e sitiantes já estavam lá. Empoleirados na beira da estrada larga de terra batida ao lado da camionete tombada e do corpo estendido.

Desci, fotografei (a primeira fotografia), marquei o ponto de GPS, ajeitei o boné e olhei pra frente. Nenhum soldado. Nenhum policial. Nenhum rabecão! Cadê todo mundo? Valha-me Deus! Abandonaram José!

De costas para o cadáver e diante de uns 25 homens e duas mulheres perguntei quem chegou primeiro no local. Quem estava ali há mais tempo. Nenhum pio. Perguntei de novo quem me chamou, explicando que só atendo "puliça" e só vou para local que o "dotô" (delegado) está presente. De repente, não entre os sitiantes e cortadores de cana pois são gente muito simples, um motorista que ali ficou porque prendeu a chave do veículo dentro do próprio carro, disse que estava já a uma hora tentando abrir o carro dele e não viu ninguém. Outra vozinha no escuro também confirmou. Fui soltando perguntas insensatas como quem não quer nada e as histórias foram saindo. Eis que o perito vira policial.

A vítima tinha apelido de confeito. Só a tia conhecia pelo primeiro nome. Um sobrenome foi mencionado. Ninguém tinha certeza, mas do apelido todos conheciam.

Era dado a desenvolver alta velocidade. Não se sabe o porquê.

É bem verdade que vinha duma festa. Tinha umas duas latinhas de cerveja pela pista e pelo mato, mas com tanto festeiro no local eu não podia relacionar.

O acidentado também tinha esposa. Ex-esposa, diga-se de passagem. Parece que azucrinava o marido (ou vice-versa) e ele, chateado, desembalava por ali para visitá-la na cidade vizinha.

Se foi bebida + volante ou se foi ciúme + volante eu não sei. Sei que o veículo capotou. Inicialmente sobrou numa curva. Foi jogado para o outro lado da pista e tombou de vez fora dela.

A falta do uso de cinto colaborou, talvez decisivamente, no óbito da vítima.

Não era José nem confeito. Era nome de santo. Mas talvez de santo não tivesse muito. A vida desregrada ou atabalhoada lhe rendeu prisão "corretiva". Não tinha 20 dias que experimentava liberdade. E justo naquela noite livrou-se de todos os problemas.

Problema ficou comigo, que não tinha a quem reportar guarida do corpo.

Fiquei sem sinal de rádio, sem sinal de telefonia e sem sinal de viva alma do funcionalismo público ostensivo de rua e investigativo das fatalidades da população. Mas fiquei até chegar o comboio. (O Estado tarda, mas não falha?!). Veio PM, veio civil, veio até IML.

Abraçei a pulseira de identificação no tornozelo. Entreguei as guias de identificação. Liberei o local.

Lá pelas tantas, tirei umas fotos para mostrar para o pessoal da cidade o quanto o interior, às vezes, é longe de tudo e de todos.

Foto sem flash, aproveitando o farol aceso de um
veículo que transitava pelo local bem a meu lado!

Ainda sem flash, utilizei uma lanterna de mão.

De novo sem flash, usei a luz natural com longa exposição.

Mesma foto anterior, mas com tratamento de imagem (Photoshop).

Foram 70 fotografias. Uma hora de espera. Outra hora de conversas e perícia. Cheguei no IC quase meia-noite. Sem ter jantado...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Como criar uma mala direta para agilizar laudos periciais

No final de dezembro de 2012, discutindo com outros colegas a respeito de como agilizar o trabalho de manufatura de laudos periciais que possuem certa repetição de dados, recebi um "passo-a-passo" da colega Carol Salles, perita criminal.

Desde o começo deste ano utilizo a metodologia que facilita um pouco a "construção" do texto básico do laudo. Basicamente digitamos os dados comuns à maioria dos laudos (data, endereço, autoridade requisitante, nome da vítima, etc.) em uma planilha do programa Excel. Vinculamos a um texto base no aplicativo Word e utilizamos o recurso de montar uma "mala direta", ou seja, os programas combinam entre si para "pegar" os dados da planilha e inserir nos lugares certos do texto. A partir daí só falta o perito incluir os dados peculiares de cada caso e emitir seu parecer.

Vejamos, então, "como vincular campos de uma planilha do Excel em um documento tipo mala direta do Word":

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1 - Crie uma tabela no Excel com as informações importantes para você, e salve. Por exemplo, crie uma simples, com cinco campos:


2 - Dê um nome e salve. Neste caso, o nome é CONTROLE, e está salva no desktop. Feche o arquivo.

3 - Crie um documento do Word, que será usado como modelo (mala direta), e que usará as informações contidas na tabela. Neste caso, você quer escrever algo do tipo:

"Esta equipe compareceu à Av. Champs Elysees, 500, na cidade de Paris, para atender local de Homicídio, referente ao BO 1111/11, em atendimento à solicitação do delegado Marlon Brando."

4 - Então pegue este trecho e crie um documento do Word. Aqui, chamei de LAUDO, e também salvei no desktop.

5 - Agora é a hora de vincular o documento do Word e do Excel.

Siga a sequência CORRESPONDÊNCIAS>SELECIONAR DESTINATÁRIOS>USAR LISTA EXISTENTE.


Ao clicar em USAR LISTA EXISTENTE, ele vai abrir uma janela, pedindo que a lista seja localizada. No nosso caso é o documento do Excel CONTROLE que está salvo no desktop (ou Área de Trabalho). É só clicar lá, achar, selecionar e clicar em ABRIR.


Um arquivo do Excel pode ter várias planilhas e o próximo passo é selecionar qual planilha você quer usar. Use a Planilha 1, pois seu arquivo tem uma só. Dê OK.


6 - Agora é a hora de criar os campos de preenchimento. No documento do Word, no nosso caso, o primeiro campo citado é o endereço. Então posicione o cursor antes do endereço e siga a sequência INSERIR CAMPO DE MENSAGEM>ENDEREÇO.

Observação: quando se clica em INSERIR CAMPO DE MENSAGEM ele dá uma lista com todas as opções que constam no Excel. Aqui só temos cinco campos, mas se tiver 50, vai abrir uma lista com 50.


Quando clicar, é isso que vai aparecer:


Apague a informação inicial que foi usada como base ("Av. Champs Elysees, 500") para que este seja o modelo "neutro" pronto para receber mais informações. Para que possa ser usado como modelo para laudos futuros tem que ficar assim:


7 - Agora repita todo o procedimento do item 6 para todos os campos. No final o documento deve ficar assim:


Salve as alterações.

8 - Finalmente a hora de produzir um laudo usando a mala direta!

Escolha a linha do Excel que você quer inserir. Aqui, queremos criar um laudo com as informações que constam na linha 2.


No campo indicado com uma seta vermelha na figura abaixo, deveríamos colocar o número 2. Mas devido a uma "burradinha" do Word, que eu ainda não saquei qual é, devemos sempre inserir o número da linha que queremos, menos um. Ou seja, se quer os dados da linha 2 do Excel, deve inserir no Word linha 1, se quer da 35 do Excel, deve inserir 34 no Word, e assim por diante.


Explicada essa pequena confusão, prossigamos:

Siga a sequência CONCLUIR E MESCLAR>EDITAR DOCUMENTOS INDIVIDUAIS


Vai abrir esta janela:


Clique em "Registro atual" e dê OK. É gerado um novo documento do Word, que será seu futuro laudo, com as informações que ele pegou da planilha do Excel!


Edite o que mais quiser no seu laudo, renomeie e está pronto!

Com outros dados agora é a mesma ciosa. Se queremos os dados da linha 4 do Excel, inserimos o número 3 no campo.


E assim temos:


Aqui foi um documento simples, com cinco campos de mesclagem. Mas pode fazer uma planilha com centenas de informações a serem inseridas na planilha do Excel. E associadas nos campos do Word.

Uma das grandes vantagens do Excel é o autopreenchimento. Então, cada nome de delegado, por exemplo, só vai ser digitado uma vez. Quando o Marlon Brando te chamar de novo, é só colocar "M" no campo que o Excel vai autopreencher o nome dele (ou dar opções de outros delegados que comecem com a letra "M", o que também é uma mão na roda!


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Espero que tenha sido útil para vocês como foi para mim. Atualmente estamos implementando uma forma de fazer o laudo diretamente dentro do sistema de informações da Secretaria de Estado da Defesa Social.

Estrutura dos modelos de laudo pericial (rotina prática)

Baseado na Portaria 002/2012 do IC/AL a respeito da estrutura mínima do laudo pericial, criei três modelos que abrangiam a maioria dos levantamento desenvolvidos na prática pericial.

O primeiro deles, que considero mais simples, é o modelo de laudo de constatação:

Estrutura do modelo de laudo de constatação.

Observem que a numeração dos laudos do IC/AL é composta por quatro números separados por pontos. O primeiro deles (quatro dígitos) identifica a sequência dos atendimentos e sempre em número ímpar (os pares são destinados para a seção interna de perícias). O segundo (dois dígitos) se refere ao ano em que o levantamento foi efetuado. O terceiro é um número interno (quatro dígitos) de controle da secretaria do IC e o último (dois dígitos) se refere ao ano em que o laudo foi elaborado.

Observação: o item "2.1 Do deslocamento para o local" é uma seção muito particular, pois, possivelmente, somente eu faço a medição da distância do IC até o local utilizando o GPS e gerando mapas sobre isso (veja um exemplo em: "GPS, esse tacógrafo digital!"). É um item perfeitamente dispensável num laudo comum (normalmente eu o utilizo em trajetos na zona rural).

No item "5.3 Do levantamento fotográfico e topográfico" geralmente faço observações (texto fixo) quanto ao uso dos equipamentos (particulares) e características de cadeia de custódia das imagens capturadas.

Esse primeiro modelo é um laudo mais resumido e se adequa a vários tipos de perícia, desde que não examine cadáveres ou veículos acidentados, pois nestes casos utilizo os modelos abaixo.

Estrutura do modelo de laudo de morte violenta.

No modelo anterior tínhamos o "local/objeto" e suas "constatações" (alterações). Era o laudo de constatação. Neste modelo há o acréscimo do item "3 Do cadáver" e seus subitens tomando o lugar do item "local/objeto" do modelo anterior. As "constatações" está representado no item "4 Dos vestígios", que são as "alterações" do ambiente e principalmente do cadáver. Eis o modelo de laudo de morte violenta.

As circunstâncias descritas irão fazer a diferenciação entre homicídio, suicídio e acidente. Havendo dois ou mais cadáveres envolvidos na ocorrência, basta repetir o item "3 Do cadáver" tantas vezes quanto necessárias e fazer as adaptações pertinentes para a pluralidade de cadáveres.

Quando ocorre um acidente de trânsito, então utilizo o modelo abaixo, pois já aparece um vestígio importante neste caso que são os veículos e, várias vezes, a pluralidade de vítimas.

Estrutura do laudo de ocorrência de tráfego.

Observem neste terceiro modelo (ocorrência de tráfego), a pluralidade de itens. Não é apenas um objeto ou cadáver. No mínimo teremos uma vítima, um veículo, um ambiente e uma estrutura viária para examinar.

Observação: deixei inclusos os itens 6.1, 6.2 e 6.3 que dizem respeito a exames e informações que frequentemente somos solicitados a fazer ou consignar.

Estas são as três estruturas básicas (constatação, morte violenta e ocorrência de tráfego) que geralmente deixo prontas para elaborar a maioria dos laudos a que somos solicitados nos levantamentos do IC/AL.


Estrutura mínima do laudo pericial (Portaria 002/2012)

A portaria 002/GD/IC/2012 do Instituto de Criminalística do Estado de Alagoas, publicada no Díário Oficial no dia 01 de agosto de 2012, determinou algumas diretrizes de apresentação física do laudo pericial e principalmente sobre sua estrutura mínima.

Diz a parte final da portaria:

*************


A estrutura básica do laudo pericial deve conter: Preâmbulo, Histórico, Objetivo Pericial, Exames (incluindo os subitens adequados à perícia realizada), Considerações Técnico-Periciais, Resposta aos Quesitos, Conclusão, Fecho ou Encerramento e Anexos. É facultada a inserção de outros tópicos, quando necessário, dependendo do tipo de perícia requisitada, conforme o exemplo genérico a seguir, que deve ser adequado ao exame realizado:


Estrutura mínima do laudo pericial

(PÁGINA DE ROSTO)

 
Exemplo de página de rosto.
          > Natureza da Perícia
          > Espécie de Exame
          Vítima ou Objeto
          Local do Exame
          Data e Hora
          Autoridade Requisitante
          Destino do Laudo
          Documento de Referência
          Perito Designado




PREÂMBULO (informações da data da designação, nome do Diretor do  Instituto de Criminalística, nome do Perito Criminal designado, natureza do exame, autoridade requisitante e quesitos formulados)

1 HISTÓRICO
(Neste item, deve constar o fato ou fatores que motivaram a realização da perícia, o horário da solicitação da autoridade requisitante e do atendimento pelos Peritos, bem como, outros esclarecimentos sobre o fato, quando necessários)
2 OBJETIVO PERICIAL
3 EXAMES (Contendo os subitens adequados a cada perícia), como por exemplo:
   3.1 Do Local
   3.2 Do Cadáver
         3.2.1 Identificação
         3.2.2 Posição
      3.2.3 Vestes
      3.2.4 Perinecroscopia
   3.3 Do Veículo
   3.4 De Balística
      3.4.1 Armas de Fogo
      3.4.2 Cartucho
      3.4.3 Projéteis
      3.4.4 Camisas
      3.4.5 Estojos
      3.4.6 Confrontos Balísticos
      3.4.7 Residuogramas
   3.5 Do Objeto
   3.6 Da Documentoscopia
   3.7 Das Impressões Papilocópicas
   3.8 Do Laboratório
      3.8.1 Sangue
      3.8.2 Pelos
      3.8.3 Espermatozoides
      3.8.4 Histologia
      3.8.5 Química
      3.8.6 Toxicologia
      3.8.7 DNA
4 CONSIDERAÇÕES TÉCNICO-PERICIAS (Análise e Interpretação dos Vestígios)
5 RESPOSTA AOS QUESITOS
6 CONCLUSÃO
7 FECHO ou ENCERRAMENTO
8 ANEXOS

*************

Vale enfatizar o texto inicial: "É facultada a inserção de outros tópicos, quando necessário, dependendo do tipo de perícia requisitada, conforme o exemplo genérico a seguir, que deve ser adequado ao exame realizado". Do mesmo modo, nem todos os itens apresentados acima precisam constar no texto final do laudo.

Uso da mala direta para fazer laudos periciais

Todas as vezes que vamos para um local de crime e fazemos o levantamento pericial, temos um conjunto de dados que devem ser transcritos para o "relatório de levantamento local de crime".

Após informarmos o número do Boletim de Ocorrência (BO) ao sistema, são abertos diversos campos onde anotamos os seguintes dados:

1 - Número do caso (determinado pelo Instituto de Criminalística);
2 - Data do plantão;
3 - Categoria de ocorrência dentre 4 tipos fundamentais (crimes contra a vida, de 4 tráfego, crimes contra o patrimônio e outros exames);
4 - Sub-categoria do exame (p. ex.: colisão, abalroamento, atropelamento);
5 - Equipe auxiliar do IC (motorista, fotógrafo, etc.);
6 - Autoridade requisitante (delegado);
7 - Se a autoridade esteve no local (sim ou não);
8 - Distrito policial (do local da ocorrência);
9 - Plantão (qual delegacia estava de plantão);
10 - Se a vítima foi removida do local (sim ou não);
11 - Tipo da via de solicitação (telefone, rádio, pessoal);
12 - Transmissor da solicitação;
13 - Recebedor da solicitação;
14 - Hora da solicitação;
15 - Hora do início (dos exames periciais);
16 - Hora do término (dos exames periciais);
17 - Cidade (da ocorrência);
18 - Bairro (da ocorrência);
19 - Comunidade (da ocorrência);
20 - Endereço (da ocorrência);
21 - Ponto de referência;
22 - Circunscrição (qual delegacia responde pelo local);
23 - Coordenadas geográficas (latitude e longitude medidas pelo GPS);
24 - Instrumento utilizado (para perpetrar a ação delituosa);
25 - Objetos coletados sem interesse pericial (alguma necessidade administrativa);
26 - Material coletado com interesse pericial (vestígios: projéteis, estojos, etc.);
27 - Exames complementares a serem solicitados;
28 - Descrição dos exames complementares (especificar os objetivos e tipos de exames);
29 - Responsáveis pelo isolamento e preservação do local;
30 - Observações (onde geralmente se inscreve o nome da vítima com seu respectivo número de identificação do cadáver)

Alguns campos são automaticamente preenchidos quando da solicitação de perícia, como o endereço, p. ex. Nós apenas confirmamos ou retificamos. O campo de preenchimento de dados da vítima não fica aberto para o IC, por isso o fazemos no campo "observações".

Boa parte destes dados eu já digito primeiramente numa planilha do Excel que possui as seguintes colunas:

1 - Número de ordem (sei quantos casos fiz por mês, p. ex.);
2 - Número do caso (determinado pelo IC);
3 - Número do BO (identifica o caso no SISGOU);
4 - Número do relatório (controle do SISGOU);
5 - Natureza da ocorrência;
6 - Data da ocorrência;
7 - Hora da chamada;
8 - Hora do início dos trabalhos periciais;
9 - Hora do término dos trabalhos periciais;
10 - Endereço do local dos exames;
11 - Latitude (do local);
12 - Longitude (do local);
13 - Vítimas/objetos (nomes);
14 - Requisitante (da perícia);
15 - Distrito Policial (da autoridade ou plantonista);
16 - Circunscrição (do local);
17 - Auxiliares (equipe pericial);
18 - Isolamento (responsáveis);
19 - Coleta (resumo do que foi recolhido).

(Veja mais detalhes no post "O laudo pericial - rotina prática".)


Ao abrir o Sistema de Gestão Operacional Unificado (SISGOU) da Secretaria de Estado da Defesa Social (SEDS), preencho os campos do formulário on-line copiando os dados da planilha do Excel (CTRL+C) e colando nos respectivos campos do formulário.


Alguma coisa, evidentemente, precisa ser digitada ou modificada, mas a maioria das informações será digitada apenas uma vez.


Feito o relatório, fecho o aplicativo e a planilha. Abro o Word e escolho um dos três modelos básicos de laudos, conforme o caso. São eles:


1) Modelo de laudo de constatação (danos, objetos, etc.);

2) Modelo de laudo de morte violenta (homicídios, suicídios, acidentes);
3) Modelo de laudo de ocorrências de tráfego (colisões, abalroamentos, saída de pista, etc.).

Conforme as orientações "passo-a-passo" já mencionadas na publicação anterior, basta indicar qual linha da planilha o programa Word deve buscar os dados para compor o laudo no modelo escolhido por você.



Exemplo de planilha e da linha escolhida para compor o laudo.


Modelo de laudo pericial com indicação das posições onde
as informações serão automaticamente inseridas .

Após este passo, teremos apenas o texto semi-preenchido com os dados do relatório de levantamento. Alguns dados serão específicos daquele caso e deverão ser preenchidos manualmente, como era de se esperar.


Observem que os dados básicos do levantamento (relatório de levantamento) já foram digitados e apenas desta vez serão digitados pois o programa Word vai buscá-los na planilha Excel. Quando o sistema estiver informatizado o próprio sistema irá gerar o laudo a partir do relatório de levantamento digitado apenas uma vez pelo perito criminal.


O levantamento fotográfico é feito por mim (geralmente dispenso o fotógrafo) e a edição das imagens também. Reduzo o tamanho e insiro ao longo do texto, mas pode ser posto de forma organizada e legendada no final do texto. Quando o sistema for informatizado, certamente teremos um momento de inserção das fotografias no formulário on-line.



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Veja mais detalhes no post "O laudo pericial - rotina prática" e "Como criar uma mala direta para agilizar laudos periciais"

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Necessidade de uma segunda base no interior.

Tenho uma colega que depois que explica alguma coisa ela pergunta: entendeu? E se resta dúvida ela ainda pergunta: quer que eu desenhe? Também acredito que uma imagem vale mais que mil palavras.

Uma imagem vale mais que mil palavras!

Neste sentido, computei todas as minhas viagens e locais de levantamento deste ano (até 10 de fevereiro). Vejam abaixo a malha rodoviária percorrida pela minha equipe em 41 dias:

Malha rodoviária percorrida neste ano até 10 de fevereiro.

Apesar de Alagoas ser um estado pequeno, sempre se discutiu instalar uma base do IC no município de Arapiraca. Já existe uma base do IML em Arapiraca. Vejam abaixo todos os locais de ocorrência atendidos por mim e a localização das duas cidades, Maceió (base atual do IC) e Arapiraca:

Locais de ocorrência e localização das duas cidades, Maceió e Arapiraca.

A distribuição dos pontos já antecipa algumas conclusões. A maioria dos pontos está próximo de Arapiraca.

Para facilitar o entendimento, medi as distâncias para ambas as cidades para quantificar (em linha reta) qual seria a cidade mais privilegiada para receber uma base do IC.

Abaixo, o que ocorreu desde o começo deste ano. O atendimento do IC é exclusivo por Maceió.

Atendimento de todos os locais por Maceió e distância total (em linha reta)

Abaixo se o atendimento fosse feito EXCLUSIVAMENTE por Arapiraca:

Atendimento hipotético de todos os locais a partir de Arapiraca.

Como é bem sabido, se houvesse uma base em Arapiraca ela seria complementar a que existisse na capital Maceió. Então todos os atendimentos seriam divididos conforme a distância das bases, como ilustrado abaixo:

Atendimento hipotético se houvessem duas bases do IC em Alagoas.

Os gráficos falam por si. Apenas para quantificar esta ilustração hipotética de atendimento de locais, medindo as distâncias em linha reta, seriam economizados 436,4 km se houvesse uma base do IC em Arapiraca.

Trata-se de um estudo simplificado do atendimento de apenas um perito criminal. No estado temos mais 22 que fazem coisa semelhante.

Imaginem que uma boa distribuição de recursos economizaria bastante. Combustível para o estado, conservação das viaturas, integridade da equipe pericial, e principalmente tempo para as famílias que estão com seus familiares a espera deste serviço e dos policiais que nos aguardam no interior.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

GPS - esse "tacógrafo" digital!

Hoje vou narrar o plantão do dia 10 de fevereiro sob a forma do itinerário que foi produzido pelo GPS que carrego comigo para fins de georreferenciamento dos locais de levantamento, medidas extensas de distâncias e elevação do terreno.

Desde dezembro de 2006 utilizo um GPS da Garmin, modelo GPSmap 60 CSx. O Instituto de Criminalística também possui dez aparelhos semelhantes da Garmin, que é o modelo GPSmap 76 CS, eles só não possuem o medidor barométrico (clique nas imagens para ampliar).



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Já naquelas primeiras experiências fiz o levantamento de um tombamento de caminhão e pude constatar um trecho anterior ao da ocorrência com pista em linha reta e em desnível. Ambas circunstâncias favorecem o aumento da velocidade do veículo e eventual descontrole na curva.

Medidas na rodovia efetuadas com o GPS (clique para ampliar).

Medida do perfil transversal da rodovia com o GPS (clique para ampliar).

O programa Mapsource da Garmin oferece as imagens e gráficos. Eu utilizo a tecla "Prtscn" do teclado para copiar a imagem para a área de transferência e em seguida colo num arquivo em branco do Photoshop. Dali edito as indicações que preciso para a expressar as conclusões periciais.

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De volta ao plantão do dia 10 de fevereiro:

Geralmente, ao sair da base do Instituto de Criminalística, marco um ponto para determinar a hora de saída do prédio. Isso já é dado pela hora marcada na trilha que está sendo gravada, mas percebi algumas divergências quando a função de "horário de verão" está atuando. Como os pontos sempre marcam a mesma hora, me condicionei a apertar a tecla "mark" todas as vezes que saio para local!

Chamada à 1h35 da manhã. Local a 231 km de distância. O motorista pegou a viatura Pajero e, tanto eu quanto ele, nos confiamos que poderíamos abastecê-la com o combustível diesel S-50 em apenas três postos autorizados (domingo, madrugada e Carnaval!). É claro que não conseguimos. Já com o tanque baixo, e sem autonomia para ir até o local, simplesmente rodamos 138 km para nada! Gastamos 2h40 para voltar para o IC e só gastar o resto do combustível que tinha. Veja abaixo o itinerário construído pelo GPS.

Itinerário infrutífero para abastecer a viatura (clique para ampliar).

Infelizmente houve um erro de procedimento no manuseio das viaturas. A viatura que pegamos não havia sido previamente abastecida e não poderia ser escolhida para atender o local.

Já com outra viatura (abastecida!) e mais um motorista (o primeiro ficou cansado, mas também foi na equipe apenas para levar até o local), saímos do IC às 05h05. O dia já estava claro.

Chegamos em Santana do Ipanema pelo caminho mais longo (acréscimo de 27 km indo pela AL-220. Pela BR-216 são 204 km). Outra má escolha do nosso motorista cansado...

Itinerário até Santana do Ipanema (clique para ampliar).

Apenas passamos na frente da delegacia, que fica às margens da BR-316, e os agentes de polícia já estavam no carro para nos levar ao local que era próximo (425 metros da delegacia).

Assim que desembarquei fui informado que havia outro homicídio no município de Limoeiro de Anadia. Como fazia parte do meu itinerário de retorno, imediatamente liguei para o IC e comuniquei que faria o levantamento. Solicitei o número do caso para registrar nas escalas que fosse eventualmente usar.

Atendimento do segundo local no itenerário de volta (clique para ampliar).

Abaixo o croqui que vou inserir no laudo. Infelizmente a área não é fotografada com alta resolução pelo Google Earth.

Itinerário próximo ao local 2 (clique para ampliar).

Dali retornamos ao IC, mas sempre pensando se não apareceria outra ocorrência no caminho de volta! Vale dizer que o plantão já havia terminado quando chegamos na delegacia de Santana do Ipanema (08h10). Retornamos ao IC apenas às 12h41.

Abaixo, imagens dos dois levantamentos. O primeiro em Santana do Ipanema com arma de fogo (local aberto, logradouro público) e o segundo dentro de um imóvel comercial (bar) no Sítio Cajueiro, dentro do município de Limoeiro de Anadia onde foi utilizada uma arma branca, mas não a que foi fotografada, que era da vítima.




O mais curioso foi quando retornei ao IC. Já estava bastante cansado. Mal havia dormido duas horas e já tinha passado a hora do almoço. Simplesmente joguei tudo na mochila e desembalei para casa. Nisso o GPS ficou ligado na minha bolsa! Já sabem o que aconteceu, né? Tudo ficou registrado! Desde o momento que passei na central administrativa (na frente do prédio) até quando arrumei minha mochila na minha sala (no fundo do prédio). Também marcou todo o itinerário até a minha casa e a hora em que a bateria acabou na madrugada do dia seguinte (04h13 do dia 12).

GPS "dedo-duro", mostrou meu caminho até em casa!

Conclusão: um motorista cansado pode aumentar o percurso até o local em 27 km ou fazer você perder 2h40 do tempo total disponível para atender locais no interior. Um perito criminal cansado pode deixar para descarregar os dados do levantamento em casa e esquecer o GPS ligado.

É claro que estamos nos divertindo um pouco e nada de grave aconteceu, mas fica o recado. É preciso evitar o cansaço dos colegas em todos os níveis de atividades do Instituto de Criminalística.

Amanhã farei plantão novamente e já estou tomando as providências para prevenir tudo isso. Vou começar comprando novas pilhas para o GPS (risos!).

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Plantão do dia 5 de fevereiro

Plantão relativamente tranquilo. Senão menos cansativo, ao menos simples. Apenas dois casos de "constatação".

O exame de constatação, na maioria das vezes, presta-se a comprovar e registrar eventos delituosos em objetos. No caso deste plantão, danificações em veículos automotores.

O primeiro caso foi uma viatura da Polícia Militar que colidiu de ré com um muro.

Danos em viatura.
Em face do reduzido efetivo e da grande demanda por exames em crimes contra a vida, a Direção do IC/AL está negociando o repasse deste casos de danos (sem vítimas) para o Detran periciar, mesmo sendo viatura oficial.

O segundo levantamento foi no interior (113 km). Um veículo foi perseguido e alvejado por disparos de arma de fogo.

O veículo foi parar fora da estrada e do acostamento.
 Houve o trabalho de recuperação de um projétil que penetrou no estofamento do banco dianteiro, mas não transfixou. Uma dica nestes casos, para evitar cortar o tecido do revestimento, é, se possível, desmontar o revestimento a partir da base do encosto (veja fotos abaixo):


Geralmente o projétil costuma perfurar o tecido, furar a espuma e cair na base da estrutura metálica do banco. Basta soltar as presilhas no fundo do encosto e encontrar o projétil.

Evidentemente, se houver engastamento na espuma, é preciso verificar se vale a pena extrair o projétil pelo mesmo orifício que ele produziu ou realmente efetuar um corte para livrá-lo da espuma. É importante que não se "machuque" o projétil com pontas de alicate, tesouras ou estiletes. O perito da balística precisa da superfície do projétil o mais intacta possível para realizar a microcomparação posterior.

Retornamos ao IC aos oito minutos do dia seguinte e foi possível dormir pelo menos seis horas. Amanhecendo, fui tirar algumas fotos no pátio de estacionamento das viaturas.

Lateral do prédio do IC/AL. Vê-se as três viaturas Paratis alugadas ao IC.

Em primeiro plano duas das viaturas Paratis alugadas.

Uma das duas viaturas Pajero Dakar do patrimônio do IC/AL.