quinta-feira, 25 de abril de 2013

Plantão dia 11 de abril - luvas epidérmicas

Já foi mostrado em seriados americanos o uso de "luvas epidérmicas" para identificação de cadáveres.

Consiste em se retirar a pele que envolve os dedos e calçá-los em um suporte - possivelmente os próprios dedos do operador que já está com luvas de látex ou silicone - entintá-la e comprimir sobre outro suporte, apropriado para se coletar a impressão das cristas papilares.

É a coleta da impressão digital utilizando tão somente a pele do dedo e não o dedo completo por diversos motivos (putrefação e desidratação, p. ex).

No caso do levantamento efetuado no dia 11 de abril, em Maceió no bairro de Riacho Doce, um indivíduo foi encontrado e identificado com histórico de afogamento.

Cadáver resgatado pelos bombeiros
em adiantado estado putrefativo.

Não foi preciso fazer qualquer procedimento para ilustrar o que é luva epidérmica. O adiantado estado putrefativo facilitou o desprendimento da pele. As imagens falam por si.

Luva epidérmica solta da mão esquerda.

Luva epidérmica solta do pé direito.

Ressalte-se que interessa ao perito criminal tão somente as cristas papilares da polpa dos dedos, não necessariamente a superfície completa dos dedos, mãos ou pés, como se fossem luvas inteiras, mas no caso acima a putrefação e a imersão em meio líquido possibilitou o desprendimento completo e por isso ilustrativo desta publicação.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Plantão do dia 5 de abril - Força Nacional

A perícia da Força Nacional está atuando em Alagoas do seguinte modo:

a) faz perícia apenas em locais de homicídios (objetivo do Programa Brasil Mais Seguro);
b) só atua em Maceió e no município vizinho de Rio Largo (estas áreas mudam conforme a necessidade do programa);
c) só atua nos três primeiros casos de homicídios do plantão (mas já foi diferente). Os restantes as equipes locais fazem o levantamento para a Delegacia de Homicídios, que também possui agentes e delegados da Força Nacional.

Por isso, na noite do dia 5, a quarta chamada foi atendida por mim! O interessante foi a disposição dos locais. Estavam alinhados e o rabecão do IML só poderia estar em um local de cada vez. Não custava aguardar a equipe terminar de trabalhar e acompanhá-los até o quarto local. Vide mapa abaixo:

Maceió e litoral Norte do município.
Saindo do Centro de Maceió - sede do IC/AL - seguimos para o bairro de Cruz das Almas, onde a Força Nacional fazia seu levantamento. O local da "Força Alagoana" era no bairro mais distante, mas seguindo pela mesma arterial, no bairro de Ipioca. Dez quilômetros separavam os dois locais.

A Força Nacional possui seu próprio veículo, mas utiliza outros quando necessário.

Dispensei o flash em todas as fotografias para não atrapalhar os trabalhos.

O local era relativamente simples: contenda entre dois homens com uso de arma branca dentro de um lote coberto onde funcionava uma oficina.


De cara já se observa a curiosa delimitação física do local do crime feita pelos policiais militares! Passaram a fita zebrada pelos pilares de uma cobertura simples no meio do lote, onde estava o cadáver. Praticamente "isolaram" o cadáver, mas não o lote inteiro onde se deu a contenda. Para isso bastaria fazer o controle do acesso ao lote que era por meio de um portão.

Ninguém da equipe investigativa ou pericial refez o isolamento ou mesmo providenciou o controle junto ao acesso, provavelmente porque estava chovendo e o portão não tinha cobertura...


Os exames foram os regulamentares para casos deste tipo. Busca nos arredores, vestes, perinecroscopia no cadáver, fotografia, topografia e, no caso do papiloscopista, coleta das impressões digitais.

Busca de vestígios no local e junto ao cadáver.

Finalização dos trabalhos com
revisão das anotações.

Lembrando que a Força Nacional também está padecendo de equipes reduzidas. Enquanto que no Rio de Janeiro a Delegacia de Homicídios leva agentes e delegados para locais, juntamente com uma equipe pericial composta de perito, papiloscopista e legista, aqui em Alagoas as equipes se reduziram a um perito e um papiloscopista. (No início eram dois peritos, um papiloscopista e um motorista local).

Após os trabalhos da Força Nacional, a equipe do IML foi liberada para ir para o quarto local. Segui sozinho com o motorista na viatura do IC. Geralmente dispenso o fotógrafo.

Com a viatura do IML à frente, refiz os mesmos testes de fotografia que fiz no plantão anterior: foto de veículos em movimento. Além do movimento e de ser no período noturno, desta vez também chovia!

Viatura do IML distante cerca de 20 metros da viatura do IC.

Já com a experiência anterior consegui melhorar a foto aproveitando a luz dos postes quando incidiam diretamente na viatura do IML (precisava clicar entre um poste e outro!).

Ampliação da foto anterior.
Ampliação máxima mostrando a placa da viatura.

Percebam que existe uma perda de qualidade da imagem, próprio do uso forçado da sensibilidade mais alta do sensor (ISO), mas consegui registrar a placa do veículo. Utilizei a objetiva 18 - 105 mm da Nikon. A distância aproximada era de 20 metros entre os veículos.

O segundo chamado foi um alarme falso de homicídio. Na verdade, morador solitário, padecendo de patologia, morreu em sua residência e só foi descoberto dias após.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Plantão dia 30 de março - acidente em Messias

Fazer um levantamento pericial não supõe apenas chegar ao local e fazer os exames. Ultimamente temos feito muitas viagens para atender locais pelo interior de Alagoas, então o trajeto até o local termina fazendo parte de todo o levantamento!

Às vezes, durante a viagem, registro algumas imagens fora do contexto da criminalística, muitas vezes para testar a viabilidade de usar a câmera em condições adversas (veículo em movimento). Raramente solicito ao motorista para parar, uma vez que o objetivo naquele momento ainda é ir ao local de crime/acidente.

No último plantão do dia 30 de março tentei fotografar o veículo que seguia adiante da viatura utilizando minha Nikon D90. Saliente-se que era noite e ambos os veículos estavam em movimento!


 Para capturar a luz ambiente (o flash não possui alcance útil) é preciso aumentar a sensibilidade do sensor (ISO) mesmo sob pena de perda da qualidade da imagem (textura "arenosa").


Invariavelmente a velocidade do obturador cai (modo semi-automático) e o movimento da câmera será facilmente registrado. Veja acima como os pontos de luzes "dançam" com o obturador aberto.

Fotografia com obturador travadao em 1/125.

Então passei para o programa de prioridade para o obturador e mantive a velocidade alta do obturador (ISO alta e diafragma automático). Consegui "congelar" o movimento da câmera, mas sob prejuízo da luminosidade total da imagem. De qualquer modo, com o veículo distante cerca de 15 metros à frente da viatura consegui capturar facilmente o nome do município na placa traseira (foto abaixo).

Amplicação da imagem anterior.

O levantamento dizia respeito a uma colisão frontal carreta x motocicleta. Não é preciso dizer quem levou a pior.

Efeitos na frenagem, no pavimento e no pneu.

Um mito que algumas pessoas imaginam é que uma frenagem nada mais é que uma marca no pavimento. Além disso é também (obviamente!) uma perda de material no pneu. E essa perda tem características marcantes, apesar de óbvias.


Efeito da frenagem na banda de rodagem do pneu.

O material emborrachado do pneu transfere-se para o pavimento exatamente como um lápis deixa o grafite sobre uma folha de papel. Enquanto o lápis possui um núcleo cilíndrico que se desgasta em seções transversais ao eixo longitudinal o pneu é "redondo" (mais especificamente próximo a um toróide) e se desgasta, numa frenagem, por meio de planos tangenciais à sua banda de rodagem. E isso se dá gradualmente. As duas fotos abaixo mostram isso.

Vista aproximada da extremidade do desgaste.

Divisão das seções da banda de rodagem.

Reparem acima: 1) superfície normal da banda de rodagem; 2) início do desgaste apresentando-se como mero arrastamento; e, 3) desgaste propriamente dito com perda do material emborrachado.

Uma frenagem é um evento que pode ser caracterizado por estas e outras peculiaridades que definem se ela era recente ou compatível com o acidente visto de um modo mais abrangente.

Neste caso examinado todos os dezesseis pneus traseiros e os do caminhão trator apresentavam algum tipo de desgaste decorrente da frenagem.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Perícia na TV Justiça

"Com sede no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, a TV Justiça iniciou suas atividades em 11 de agosto de 2002. Como emissora pública, transmitida pelo sistema a cabo, satélite (DHT), antenas parabólicas e internet, foi a primeira a transmitir ao vivo os julgamentos do Plenário da Suprema Corte brasileira."

É assim que começa o texto do site da emissora (conheça a TV Justiça).


Um de seus programas é o Artigo 5º e o conteúdo não poderia ser mais explícito! "O programa Artigo 5º leva até você assuntos que dizem respeito ao seu dia a dia", baseados nos incisos do quinto artigo da nossa Constituição Federal.


Uma das entrevistas do programa foi sobre a perícia criminal. (Link para o vídeo). Publicado em 03 de abril de 2013).

O vídeo encontra-se também no Youtube. (Link para o vídeo no Youtube).

Foram entrevistados um juiz e um perito criminal do Distrito Federal (clique nas imagens para ampliar).


Ao longo do vídeos outros peritos foram entrevistados. O primeiro deles é autor de livro na área.




Houve uma sequência de perguntas interessantes que podem ser acompanhadas no vídeo:

Qual é a importância do trabalho da perícia?
Existe crime perfeito?
Qual o impacto da tecnologia no trabalho pericial?
O que pode invalidar o trabalho da perícia?
A perícia também pode inocentar?
O que acontece se numa cidade não houver perito?
Como se escolhe o perito “ad hoc”?
Existe intercâmbio entre as polícias (civil e federal)?
Quando há divergência entre laudos (em Brasília)?
É possível pedir uma nova perícia sobre um mesmo caso?
Falta investimento na perícia?
Qual o prazo para expedir o laudo?
Quais os setores em que a perícia atua?
Qual o nível de atualização da perícia brasileira?