sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Plantão 28 de junho - Viatura e lamaçal

Após o excesso de locais do São João, o plantão do dia 28 de junho foi mais "tranquilo" ou talvez, bem distinto!

LOCAL 01 (14h15) - Ocorrência sem vítima na capital!

Às 12h50 chega no IC um chamado para atender uma ocorrência de arrombamento de veículo.

Eu e o motorista saímos com uma viatura fazendo um barulho danado no motor e com a buzina sem funcionar. No meio do caminho decidimos abrir o capô para descobrir a origem de tanto barulho.


Primeiro descobrimos que o cabo (de aço) do acelerador estava com um nó estranho! Funcionava, mas a "gambiarra" estava lá.

Nosso maior espanto foi descobrir porque a buzina não estava funcionando.


A buzina estava simplesmente solta, sacolejando entre as polias da correia do alternador. Boa parte da carcaça plástica estava desgastada e talvez faltasse pouco para romper a correia de borracha.

Arrancamos a buzina fora e prosseguimos para o local do arrombamento.

Curiosamente não encontramos o veículo a ser periciado. Nem seu proprietário. Fomos à delegacia que solicitou o exame e não encontramos o delegado, nem o chefe de serviço. Para não perder a viagem ainda formos ao centro de operações da secretaria de defesa social e, pasmem, mas também não encontramos o operador da mesa da Perícia Oficial!

Em resumo, eu e o motorista, transitamos 35 quilômetros, por duas horas, para não encontrar ninguém! Nem vítima, nem delegado, nem agentes de polícia, nem mesmo o operador da nossa mesa específica de operações!

E para piorar, tanto na ida quanto na volta para o local, passamos por 04 (quatro) acidentes de trânsito (colisão simples, sem vítima fatal, de motocicletas) sem que pudéssemos atender porque já estavamos designados para uma perícia que não ocorreu...

LOCAL 02 (02h38) - Cadáver encontrado em Maragogi.

Frustrado, mas não desanimado, retornamos para o IC e aguardei um segundo chamamento. Desta vez a 142 km de Maceió.

Saímos de Maceió às 23h30 e chegamos na delegacia à 01h30.

Viaturas, à noite, sob a luz do holofote do estacionamento (fotografia sem flash).

Chegando na delegacia de Maragogi.

 Na delegacia só havia um agente de polícia que só abriu a porta para dizer que estava sozinho. Aguardamos a viatura do IML e uma guarnição da polícia militar que nos acompanharia até o local na zona rural.

Foram 2,3 km por estrada de (muito) barro fora da rodovia AL-101 Norte, após a entrada de Maragogi.


Era tanta lama que apenas a viatura do IC chegou mais próximo do local indicado para fornecer iluminação com os faróis do veículo. O pessoal do IML veio à pé.



Algumas destas imagens foram obtidas com uso do flash embutido da câmera (Nikon D90), mas também tive de desligá-lo para capturar as melhores luzes da cena, como abaixo:

Vista interna do "rabecão".
 A fotografia abaixo foi obtida com um máximo de sensibilidade da câmera. O interessante é conseguir capturar aquela mínima luz que fica dentro da cabine. Detalhe, com a viatura em movimento!

Motorista Manoel Messias conduzindo a viatura do IC.

Ainda com a mesma configuração da câmera para pouca luz, conseguir registrar o tráfego da viatura do IML à frente da nossa pelas ruas de Maceió (vejam abaixo).

Viatura do IML voltado para a base em Maceió.

Vale lembrar que a obtenção destas imagens é incompatível com o uso da função automática das câmeras semi-profissionais. É preciso que o fotógrafo realmente se encoraje a experimentar outros modos de exposição. No futuro pretendo esmiuçar como podemos conciliar detalhamento com rapidez na fotografia em um levantamento pericial.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Plantão do dia 4 de julho - explosão e homicídio

Lembro de 4 de julho por dois motivos: comemoração da independência dos Estados Unidos da América e, principalmente, aniversário da minha irmã mais nova! Mas eu estava de plantão e a primeira ocorrência ficava a 188 km de Maceió.

LOCAL 01 (15h38) - Arrombamento em Olivença.

O chamado chegou a nossa central do IC às 11h40. Saímos do IC às 13h06 e depois de percorrer 203 km chegamos à Olivença. Vejam abaixo:

Saída do IC com uma das Pajeros.

Saindo de Maceió, passando por Marechal Deodoro.

Registrando o dia ensolarado sobre os canaviais.


Depois da rodovia AL-101, que margeia o litoral sul de Alagoas, rumamos para o oeste pela AL-220 e logo após o município de Batalha, subimos na direção norte por cerca de 18 km numa estrada de barro que fez valer a transmissão 4x4 da nossa viatura.

Dezoito quilômetros de estrada de barro.

Abaixo estamos chegando no município de Olivença. Observem que todas as fotografias são registradas com a viatura em movimento! Se eu fosse jornalista...



Vista da entrada do município de Olivença.

Tratava-se de um arrombamento em estabelecimento bancário com uso de explosivos. Somente com esta referência, já é caso de atuação da equipe especializada em explosivos. Infelizmente em Alagoas ainda não temos normativa legal que discipline rigorosamente o modo de atuação das equipes de investigação. Ora é chamada a perícia, ora a delegacia especializada em roubos a bancos e, quando lembram da gravidade do caso, chamam o esquadrão anti-bombas da Polícia Militar.

Danificação no caixa eletrônico.

Registro dos fragmentos do artefato.

Já tivemos reuniões que rascunharam uma norma específica para estes casos e a diretriz primeira para atendimento do local é o comparecimento do esquadrão anti-bombas para vasculhar possível perigo ainda remanescente da ação delituosa original.

Infelizmente a região interiorana sempre é mais carente em recursos. Restringi-me a registrar os fragmentos do explosivo ainda que corrompendo regras básicas de bom senso.

Posterior a este local, outros ainda ocorreram e algumas de nossas equipes começaram a negar atendimento alegando - com fundamento - perigo real no local (reminiscência de material explosivo).

LOCAL 02 (19h01) - Homicídio em Limoeiro de Anadia.

Entre Maceió  e Arapiraca, percorrendo a mesma rodovia estadual AL-220, fica o município de Limoeiro de Anadia. E foi para lá que nos dirigimos no período noturno do plantão.

Chegamos na delegacia de Limoeiro de Anadia às 18h56.

Tratava-se de homicídio de indivíduo adulto em pleno logradouro público, mais exatamente numa das principais praças públicas do município. A aglomeração de curiosos já era esperada.

A seta branca tenta localizar o cadáver no meio da praça.

Vista geral do centro da praça.

O isolamento foi efetuado com delimitação da área de interesse policial com uso de fita zebrada. Os pontos de fixação foram escolhidos em marcos locais (árvores e bancos da praça). Esta estratégia tem sua praticidade, não fosse o tamanho diminuto da praça. Praticamente puseram a fita ao redor do cadáver e o local virou um pequeno picadeiro para espetáculo mórbido. Para piorar, os adultos não admoestam suas crianças para evitar o local, simplesmente os ignoram, quando não os trazem no colo...

Essa é uma das dificuldades que o agente de segurança pública enfrenta no tratamento de ações delituosas que deixam vestígios em logradouros públicos, notadamente o corpo humano morto exposto na rua. Poucas pessoas consideram a proteção do jovem e da criança quanto à exposição desnecessária numa cena de crime.

A vítima suportou vários disparos de arma de fogo e principalmente pelas costas através do tecido de suas vestes. Diante destas condições, além do registro apropriado dos ferimentos para fins de instruir o laudo pericial, avancei para um comparativo dos registros com e sem limpeza dos locais de interesse.


Fiz um registro de quatro dos ferimentos da maneira como foram expostos - depois de retiradas as vestes - e em seguida após uma limpeza mediante algodão embebido em água comum.

Vejam abaixo as duas colunas do original (sem limpeza) e após a limpeza com algodão úmido.





Conclusão do confronto:

Não se vê substancial diferença uma vez que os ferimentos foram produzidos com a vítima vestida e em condição de pouca contaminação (piso cimentado da praça - ausência de outras sujidades, areia, vegetais, etc.). Então, além do projétil penetrar na pele sendo "enxugado" pelo tecido das vestes, eventuais efeitos secundários do disparo ficaram na face externa das vestes. A própria retirada das vestes contribuiu para remover o excesso de sangue ainda não coagulado.

A iniciativa executada concomitante ao preciso registro dos elementos materiais da ação delituosa não foi um exemplo muito ilustrativo, pois alguns fatores contribuíram para a "facilidade" do registro fotográfico: vítima vestida, piso limpo, retirada das roupas promovendo limpeza involuntária.

A experiência serviu como exercício para um caso mais difícil, e plausível, como o caso de vítima sem vestes com ferimentos cobertos com sangue coagulado e ou sujidades diversas (areia, vegetais, etc.).

sábado, 7 de setembro de 2013

Plantão do dia 02 de setembro - Volta das férias!

Quatro dias depois de publicado o edital do concurso para perito criminal do Estado de Alagoas, nasceu meu primeiro filho.


Por causa disso, adiantei o gozo das férias para ampliar o tempo junto a minha família neste momento especial. E agora, em setembro, estou de volta!

HOMICÍDIO EM JOAQUIM GOMES:

O plantão iniciou-se às 8h e a primeira chamada foi às 11h. E lá vou eu com motorista novato para Joaquim Gomes (78 km de Maceió).

O curioso deste local é que ficava próximo de um outro que tive de atender em julho de 2009!

Reparem que em 2009 "subi" no mapa pela rodovia BR-104 e segui cerca de 12 km por uma acesso de barro batido, rumo nordeste, a partir do município de União dos Palmares (79,3 km de Maceió). No último plantão de 2 de setembro de 2013 "subi" no mesmo mapa pela rodovia BR-101 e segui cerca de 13 km, por outra estrada de barro, rumo oeste, a partir do município de Joaquim Gomes.

Mapa gerado pelo programa Mapsource, da Garmin (GPS).

Naquela época fiquei impressionado com a elevação que subimos. Foram cerca de 282 metros ao longos dos 12 km fora da rodovia BR-104. Vejam o perfil abaixo (programa Mapsource).


Agora em 2013 tivemos de subir uma elevação ainda maior! Foram quase 350 metros no sentido oposto.


Reparem ainda que faltaram cerca de 10 km entre um local e outro para serem percorridos.

Clique na imagem para ampliar.

Mensuração que faltou entre os dois locais.
Consultando os sites do governo de Alagoas, encontrei o mapa rodoviário atualizado de Alagoas e pude ver que existe um planejamento de estrada naquele trecho. Seria a AL-205 e teria extensão de 29,3 km.

Clique na imagem para ampliar.

Certamente a construção da estrada irá reduzir o número de curvas que no momento deixa a distância entre os municípios um pouco maior.

O atendimento da chamada inicia-se com o boletim de ocorrência gerado pelo Sistema de Gestão Operacional Unificado (veja mais) da Secretaria de Estado da Defesa Social de Alagoas.

Às 10h30 a comunicação chegou ao Instituto de Criminalística. Exatamente às 12h16 nossa viatura estacionou defronte à delegacia de Joaquim Gomes.


A companheira da vítima (masculino) estava na delegacia e nos aguardava. O chefe de serviço também. Fomos informados que se tratava de local na zona rural, distante, e por isso seria interessante aguardar a viatura do IML para seguirmos em comboio.

Como o nosso motorista já trabalhou no IML da capital, ele teve a iniciativa de telefonar e confirmar a saída da viatura do IML de Maceió para Joaquim Gomes. Seria coisa de esperar, no máximo, o mesmo tempo de nosso deslocamento. Fizemos o percurso pela rodovia BR-101 em 01h14.

Infelizmente nossos colegas pararam para almoçar e não avisaram a ninguém. Nem à SEDS, nem à delegacia, nem a nós do IC e muito menos à companheira chorosa da vítima...

Depois de 02h08 de espera partimos para o local propriamente dito. Como o delegado não se encontrava na delegacia e o chefe de serviço estava só, tivemos que solicitar acompanhamento da Polícia Militar.

Foram três veículos no comboio. IML na frente, IC no meio e a viatura da PM atrás de nós.


A estrada era tão irregular por causa dos pedregulhos no leito carroçável que a porta lateral da viatura do IML chegou a abrir. No entanto, não havia lama ou trechos intransponíveis.


Apesar das muitas ladeiras, a paisagem era bonita e chegamos a flagrar algumas cachoeiras!


Depois de 13 quilômetros, percorridos em 51 minutos, chegamos a um povoado. E na última residência, encontrava-se nosso objeto de exame.

Povoado distante 13 km da rodovia BR-104.

Tratava-se da fachada de um imóvel simples onde a configuração dos elementos materiais apontava para uma reunião informal, com som, aperitivos e bebidas alcoólicas. A vítima, possivelmente sentada de costas, suportou disparos de arma de fogo no rosto.


Os mesmos elementos materiais (aqui faço referência ao conjunto de evidências relevantes que fundamentam a narrativa) indicavam arma de cano longo com munição recarregada. Daí o grande esfumaçamento constatado na pele da vítima (detalhe abaixo).


A forte presença dos efeitos secundários do disparo de arma de fogo (esfumaçamento) denuncia completamente o tiro à curta distância. O conhecido "à queima-roupa", que, no caso, impregnou a face da vítima, inclusive o globo ocular (imagem acima).

Terminados os trabalhos periciais e recolhido o cadáver, o comboio retornou pelo mesmo acesso.

Descendo a serra e apreciando a paisagem entre um solavanco e outro!

Para meu conforto, neste plantão, não tive levantamentos noturnos, mas a viagem para Joaquim Gomes tomou oito horas, desde a saída do IC às 11h00 até o retorno, às 19h00.