terça-feira, 25 de novembro de 2014

Perícia no cinema - Insônia

Insônia é um filme que prende a atenção do começo ao fim. Todas as histórias estão bem amarradas e são expostas e exploradas calculadamente durante todo o filme.


Dentro do tema pericial, vários momentos do filme retrata ou se referem a procedimentos periciais. Logo no começo temos um exame no cadáver efetuado pelo policial interpretado por Al Pacino. Os policiais locais esgotaram suas habilidades, mas o policial experiente amplia as primeiras informações.



O foco principal deste filme, a meu ver, não é tanto a ilustração do trabalho policial, a investigação ou a espécie do crime, mas o rigor da cadeia de custódia. É ela que vincula o protagonista durante todo o filme. Um erro do passado põe em cheque o trabalho de toda sua vida.


Também neste crime que ele investiga, ela se afasta dos protocolos e, de novo, põe em cheque a credibilidade do resultado final.

Uma policial local percebe o erro e se questiona como deve proceder.


O protagonista insiste, e deixa uma lição para todo perito: "Não se desvie de seu caminho", ou seja, sempre seja fiel à maneira correta de se atribuir a responsabilidade penal dos crimes.



segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Perícia no cinema - O Colecionador de Ossos


O Colecionador de Ossos é um filme comumente citado nos debates que envolvem a perícia técnica em locais de crime.


Por mais que um filme seja baseado no real, há sempre aquele teor ficcional e de apelo que cativa os cinéfilos. Já no início do filme me espanto quando uma simples policial para um trem para proteger uma cena de crime! É o que a personagem de Angelina Jolie faz.


Como o filme se passa numa época antes dos celulares com câmeras fotográficas integradas, ela é obrigada a pedir a um garoto que assistia a parada do trem para comprar uma dessas câmeras "descartáveis" de filme! Dá até para ver a personagem girando o cartucho do filme!



Pode parecer pouco mas é uma das sequências que me cativa. Ali está a preocupação de "congelar" a cena para as investigações posteriores. O registro fotográfico pereniza a cena para os investigadores esclarecerem os fatos e os juízes julgarem melhor.

Sim, a cédula foi fotografada para servir de padrão dimensional. Na falta de uma escala milimetrada.

Lembrem-se que a personagem ainda era apenas uma policial. Esta performance enche os olhos do protagonista do filme que a eleva para a unidade de investigadores de cenas de crime.

No primeiro trabalho que a personagem faz dentro da unidade se vê algumas regras básicas de investigação de locais de crime.


Todo este cuidado e seriedade se deve pelo fato da fragilidade de certas provas e da certeza que os procedimentos devem transmitir aos destinatários da investigação.


A experiência do protagonista serve para cativar o público, mas para o Perito Criminal temos protocolos escritos para cumprir. E essa obediência traduz-se em credibilidade para a prova material.



Perícia no cinema - Meu Primo Vinny

Embora existam seriados conhecidos dentro do universo pericial (CSI Las Vegas e de Bones, p. ex.) também existem filmes que tangenciam ou abordam magistralmente o tema.


Vejamos Meu Primo Vinny onde um advogado desastrado e inexperiente precisa fazer uma defesa e busca ajuda em sua noiva, exímia conhecedora de mecânica de automóveis.

O que especialmente chama a atenção neste filme é o questionamento do promotor. Ora, afinal de contas, a "perita" é ou não é qualificada para servir no processo judicial?


Lembremos que se trata de um processo estadunidense e não brasileiro. E que a personagem foi chamada para testemunhar como perita. Neste caso, na falta de um currículo formal, o promotor precisava questionar o conhecimento da testemunha.

É um trecho que se dá quase no final do filme (103 minutos) e que mostra a "cartada" final do advogado trapalhão no momento em que é ajudado por sua noiva.


Apesar do perito brasileiro, concursado no serviço público, possuir sua fé pública de servidor público, também há que se adequar a formação acadêmica do indivíduo com a tarefa que tiver que desenvolver especificamente numa investigação técnica.

sábado, 18 de outubro de 2014

Plantão 18 de outubro - acompanhado pelos novos peritos criminais

Iniciamos o plantão com a visita de dois novos peritos criminais, Bárbara e Charles que vieram acompanhar levantamentos periciais.

Dei algumas orientações, mostrei o que levo para o plantão e o que temos disponível. Às 10h33 simulamos um levantamento de local de crime no pátio de estacionamento.

Pátio de estacionamento do Instituto de Criminalística.

Mas já às 10h40 fomos informados de um corpo encontrado no município de Barra de Santo Antônio.

Antes de sair do Instituto de Criminalística assumimos outra ocorrência no município de Branquinha. Neste caso um homicídio por projétil de arma de fogo.

Local 01 - morte suspeita no interior de residência na Barra de Santo Antônio (47,2 km de Maceió).

Diversos elementos deste caso convenciam pelo uso inadequado da energia elétrica doméstica.


No local encontramos ferramentas inadequadas (sem isolamento), circunstâncias perigosas (chão molhado, calçado inapropriado) e principalmente vestígios indicativos de descarga elétrica (bolhas de queimadura na pele).


Nem sempre os sinais são totalmente compatíveis com a literatura, mas o conjunto dos elementos materiais, junto às informações angariadas pela investigação policial, confirmam as suspeitas.

Finalizados os trabalhos na Barra de Santo Antônio, nos dirigimos para o município de Branquinha.

Local 02 - homicídio por projétil de arma de fogo em logradouro público de Branquinha (97 km do primeiro local).

Faltando cerca de 10 km para chegar no entroncamento das rodovias BR-101 e BR-104 paramos num bloqueio montado por moradores insatisfeitos com a falta de energia elétrica em suas casas.


Após uma rápida negociação, principalmente facilitada pelo oportuno retorno da energia elétrica nas residências próximas, foi possível desobstruir a via e seguir viagem.

O caso foi relatado como uma abordagem à vítima em local diverso de onde foi encontrada, perseguição, tombamento da vítima sobre o pavimento da estrada e continuidade dos disparos de arma de fogo pelo agressor.


Os vestígios constatados reforçavam os relatos. Manchas de sangue formadas por gotejamento em movimento desenhavam um itinerário sugestivo de fuga. E efeitos secundários de disparo de arma de fogo indicavam disparo à curta distância contra a cabeça da vítima.

A ocorrência se deu por volta das 12h30, mas nós só chegamos às 15h32. O cadáver já possuía alterações por causa da longa exposição ao sol e calor.

População, guarnição da Polícia Militar e genitor da vítima, todos aguardavam o término dos exames e recolhimento do cadáver.


Ainda no percurso entre os locais 01 e 02 recebemos solicitação para atender o município vizinho de Branquinha. Uma colisão de motocicleta contra objeto fixo.

Local 03 - ocorrência de trânsito no município de São José da Laje (33,9 km distante do segundo local).

De longe foi possível identificar a aglomeração de curiosos no local da ocorrência, mas curiosamente não havia o veículo nem a vítima no local.


Não é difícil explicar. A ocorrência foi solicitada às 12h30, mas só chegamos às 16h43. Mais uma vez o problema do efetivo pequeno e a numerosidade das ocorrências.

Nem por isso deixa-se de constatar vestígios relevantes para a caracterização da ocorrência.

Principais vestígios ainda constatados no local


Terminamos o terceiro levantamento com ausência de agentes públicos no local (policiais civis e militares).

Sem mais solicitações nos dirigimos para Maceió e fomos brindados com um bonito pôr do sol!

Imagem capturada da rodovia BR-104 com a viatura em movimento.

Entramos em Maceió já à noite. Aproveitei e testei uma fotografia com baixa luminosidade.

Registrando o engarrafamento em Maceió no início da noite.

Tive oportunidade de testar a câmera fotográfica Nikon D5300 do Charles que teve excelente desempenho na captura de imagens noturnas, mas não testei a câmera, tipo bridge (também uma Nikon), que a Bárbara levou.

Foi um plantão mais de acompanhamento que de prática, como eu desejava, mas pudemos oferecer aos novos peritos uma boa variedade de casos, procedimentos e situações que mostram um pouco do nosso cotidiano.

Itinerário de atendimento dos três locais no período da manhã.

Às 18h30 Charles e Bárbara deixaram o Instituto de Criminalística. Eu, Veras e Luciano continuamos com o plantão noturno.

sábado, 11 de outubro de 2014

Novas câmeras fotográficas chegando!

Concomitante e coincidentemente com a nomeação dos novos peritos (concurso 2013), também chegarão ao IC três novas câmeras fotográficas adquiridas emergencialmente para suprir o desgaste e deterioração das duas Alfa 290 da Sony (DSLR's) e três da Nikon (compactas).

É da mesma marca Sony, mas modelo A-58 com objetiva intercambiável de 18-55 mm. São 20,1 Mpixels de resolução (atualmente trabalho com 12 Mpx da minha antiga Nikon D90). Possui monitor retrátil, alimentada à bateria, mas não é uma DSLR completa. Na verdade possui um visor que "enxerga" o que a objetiva vê e transmite para o operador (quarta imagem abaixo). Por isso é chamada SLT (single lens translucent).

 


 

Uma das vantagens é a objetiva com diâmetro de 55 milímetros. Ela aceitará todos os filtros que veem na maleta da Senasp para uso das luzes forenses!

O monitor retrátil facilita muito a fotografia em posições de visualização difícil, tais como embaixo de veículos e acima de muros, por exemplo, mas eu teria muito cuidado com a fragilidade do mecanismo. Uma pancada e tchau equipamento!

O visor eletrônico tira todo o prazer de ver através das lentes, infelizmente, mas não impede de efetuar os levantamentos. O prazer de consultar as imagens ficará certamente para a visualização das imagens no monitor do computador.

Com tantos recursos quanto uma DSLR comum, já verifiquei, pelas imagens, que a Sony A-58 pode oferecer fácil acesso aos recursos para fotografia noturna. Vejam nas imagens abaixo:

 

Saindo do modo automático (símbolo da "câmera verde" no dial de modo de fotografia), basta acionar o flash para mantê-lo no modo obrigatório (flash forçado) e fazer os ajustes de ISO e compensação pelos botões de atalho. Vejam abaixo:

 

Pressionam-se os botões, um de cada vez, e move-se o dial na parte anterior. Com isso obtém-se a combinação adequada para melhor exposição à noite. Ou pelo menos para forçar o máximo de sensibilidade para capturar todo o ambiente iluminado pelo flash embutido.

Faremos experiências oportunamente e aprimoraremos os comandos na câmara para conseguir bons resultados sem dificuldades.

Vejam os exemplos abaixo obtidos com a minha Nikon D90 usando comandos semelhantes:



Estas imagens não receberam edição. Os ajustes de ISO e compensação só são permitidos no modo "P" (programa). Por isso é preciso "desligar" o modo automático (símbolo representado pelo perfil frontal da câmera na cor verde).

É previsto um treinamento onde poderemos testas todas estas possibilidades.

Mais informações: Sony SLT A58: Uma DSRL para iniciantes que querem gastar pouco.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Plantão do dia 5 de maio - queda da mangueira

Os registros do meu plantão do dia 5 iniciou-se mesmo de madrugada! Ainda na "vigência" da equipe anterior!

Apenas com poucos danos materiais, nossa mangueira caiu! Provavelmente por causa de infiltração de água devido às últimas e volumosas precipitações pluviométricas que se deu neste período em Maceió.

De madrugada os plantonistas tiraram as primeiras fotos. Ao amanhecer e seguinte, nossa colega Ana Márcia obteve as demais fotos (clique nas imagens para ampliar).



Detalhe do "pé" da mangueira. O solo cedeu.


Vários veículos particulares e todas as viaturas ficaram presas durante os primeiros trabalhos de remoção da árvore.

Felizmente não houve maiores danos (algumas esquadrias de janelas e vidraçaria), mas que a mangueira deixou saudades, deixou. Sua carga de frutas era bem apreciada.

Às 15h30 atendi uma ocorrência de homicídio no município de Boca da Mata.

Cena de crime aguardando levantamento pericial
(seta preta localiza cadáver sob cobertura de tecido).

Uma das obrigações do levantamento é identificar os envolvidos (vítima e autor da ação). Durante o curso de auxiliares de perícia, que fizemos no IC/AL em 2010, enfatizou-se justamente a identificação visual: a típica fotografia "3x4" do cadáver.

Obviamente toda a superfície corporal pode reter vestígios importantes, principalmente sujidades e manchas de sangue, mas que também podem dificultar a identificação visual por meio do retrato frontal. Então, busca-se fazer duas fotos do rosto. Uma conforme encontra-se, muitas vezes sujo, e outra com remoção de quaisquer obstáculos à perfeita visualização. Exemplo do caso abaixo:

Registro do rosto com vestígios e com a devida limpeza.

Dentre outros ferimentos de arma de fogo deste caso, dois foram bastante característicos quanto às suas entradas e saídas. Um no pescoço e outro nas costas. Ambos transfixantes.

O primeiro efetuado à curtíssima distância deixou uma enfática zona de tatuagem. Além do esfumaçamento, também houve ação dos gases quentes (queima).

Vista em ângulo aberto para visualizar os dois ferimentos
produzidos pela passagem do mesmo projétil de arma de fogo.

Abaixo, vistas ampliadas da entrada e da saída do mesmo projétil. Clique nas imagens para ampliar.


Um segundo disparo foi efetuado contra as costas com saída do projétil pelo peito. Veja ampliações da entrada e saída abaixo. Clique nas imagens para ampliar.


Uma segunda recomendação - e particular orientação de cursos de preparação para peritos - é a postura de escalas diante dos vestígios. A importância do registro não se discute. A importância do registro bem feito precisa sempre ser lembrada.

Aquela "régua", acartonada e adesiva, viabiliza o dimensionamento e comparação dos diversos vestígios fotografados. É o caso desta publicação. Nas duas imagens acima é possível verificar que o ferimento de entrada de projétil de arma de fogo costuma ser geralmente menor que o de saída.

Outro vestígio deste caso foi o projétil recuperado do solo.


Foi possível identificar o orifício regular produzido no solo pela penetração do projétil (imagem acima).

Próximo a este orifício é enterrada uma vareta ou formão metálico de modo a retirar todo o torrão de terra onde se projeta a localização final do projétil. Tenta-se extrair o projétil por "desmontagem" do torrão de terra. A pretensão é danificar o mínimo possível a superfície do projétil.

No entanto, em casos deste tipo - penetração no solo - dificilmente se obtém um projétil íntegro. Vejam imagem ampliada abaixo:

Superfície do projétil depois que penetrou no solo.

Qualquer microcomparação fica bem prejudicada.

Finalizei os exames periciais verificando que a vítima tombou com menos de 18 anos de vida.

Comunidade local acompanhando o final dos exames periciais.

A mangueira do pátio de estacionamento do Instituto de Criminalística possuía bem mais tempo que isso. Eu mesmo possuo mais idade que algumas dessas vítimas. Mas se uma árvore cai por causa da chuva e um velho não é atraente para ninguém, vejo as pessoas da comunidade e sinto-me autorizado a perguntar: quem será o próximo?