sábado, 25 de agosto de 2012

Administração de rotas durante o plantão

No Núcleo de Perícias Externas do Instituto de Criminalística de Alagoas temos seis equipes de aproximadamente quatro peritos. Cada equipe faz um plantão de 24 horas e cada uma possui um perito que é o coordenador. Esclareço que são apenas quatro peritos por dia para atender todo o estado de Alagoas.

Hoje, durante o plantão do dia 25 de agosto de 2012, nosso coordenador teve de atender um local em São Brás, distante 182 km da capital Maceió (lembrar que Alagoas não possui regionais. Todas as equipes trabalham em Maceió e atendem todo o interior).

Percurso para atender o município de São Brás, interior de Alagoas.
O perito coordenador já estava em São Brás quando recebemos no IC nova chamada para o município de Batalha, distante cerca de 185 km de Maceió. Veja o percurso abaixo:

Percurso para atender o município de Batalha.
Percebam que neste esquema, não compensa uma equipe sair para Batalha se outra está relativamente próxima e pode fazer o atendimento. Vejam o percurso abaixo:

Percurso entre os municípios de São Brás e Batalha.
Pelo percurso calculado no computador, as estradas disponíveis não permitem um trajeto reto (embora eu acredite que meu colega irá cortar por alguma estrada de barro).

Cálculos finais:

Atendimento em São Brás (ida e volta): 182 + 182 = 364 km

Atendimento por outra equipe em Batalha: 185 + 185 = 370 km

Total de duas equipes em campo: 364 + 370 = 734 km

Sugestão de otimização: atendimento por uma mesma equipe (inclusive apoiado por portaria da Direção do IC/AL).

Atendimento pela mesma equipe: 182 + 136 + 185 = 503 km

O deslocamento de uma equipe para os dois locais no interior economiza 231 km, no entanto, sobrecarrega esta mesma equipe numa distância de 139 km.

Evidentemente que o esforço da equipe não se mede apenas em quilômetros percorridos. Existem outras variáveis como dificuldades de acesso (ambos foram em zonas rurais) e complexidades dos exames. Lembrando que a equipe deverá executar ao menos um abastecimento de combustível e uma refeição (almoço).

Não sabemos a previsão, mas até o momento de publicação deste post a equipe ainda não retornou ao IC/AL.

Sem o coordenador, estou fazendo às vezes dele...

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Informação incluída em 03 de setembro de 2012.

A equipe chegou bem, mas já no período noturno. Não conseguiram fazer o segundo levantamento porque anoiteceu e inviabilizou o trajeto pela área rural.

Luz forense - Superlite 400 - novo equipamento

No último dia 20 de agosto, recebemos a visita do Sr. Frederico Caetano da Costa, engenheiro da Wantek, empresa de eletrônica, informática e segurança. Ele nos apresentou, além de diversos produtos da empresa, o Superlite 400, uma luz forense portátil para local de crime e laboratório.

Conjunto da luz forense (gabinete superior) e bateria recarregável (gabinete inferior).
 O kit completo vem com a lâmpada montada num gabinete, uma bateria recarregável e um carregador. Além disso somam-se cabos, condutores ópticos, lentes, filtros e adaptadores diversos.

Todo o conjunto de itens que acompanha a luz forense Superlite 400.
Ao invés de diversas lanternas, cada uma com um comprimento específico e exclusivo de onda, temos em um único equipamento (lâmpada) a possibilidade de trocar os comprimentos mediante um seletor.

A principal vantagem é a potência do equipamento que é bem maior que as lanternas do kit da maleta da Senasp.

Engenheiro Frederico no centro passando as instruções da luz forense.

Exemplo de iluminação com luz branca - foco fechado.

Segundo exemplo com foco um pouco mais aberto.

Terceiro exemplo com difusor de luz (branca).
 A luz branca é bastante forte e permite a pesquisa de pegadas e pelos sobre superfícies lisas como o piso da sala de instrução.


Luz com difusor de luz rasante para espalhar a luz sobre a superfície do piso (fotos acima).

Abaixo, vista do piso sob luz comum da sala e sob a luz branca rasante do aparelho. As pegadas são perceptíveis com a vista desarmada.


Abaixo, pesquisa de cabelo e pelos com o uso da luz branca rasante.


O Superlite 400, acoplado a uma dispositivo, pode ampliar o campo de atuação na documentoscopia. É possível até ler textos dentro de envelopes lacrados! A luz é difundida dentro de uma caixa e transmitida por trás dos documentos. Com a troca dos comprimentos de onda, diversos dispositivos de segurança podem ser averiguados.

Dispositivo para pesquisa documentoscópica.



Além do dispositivo de visualização direta (as primeiras fotos emparelhadas acima) há uma lupa que amplia a visualização dos mesmos documentos (as segundas fotos emparelhadas acima).

Também foram feitos testes com identificação de impressões papiloscópicas, com e sem pó revelador e também variando os comprimentos de onda (fotos abaixo).



Por fim, aproveitamos as amostras que tínhamos preparado para a oficina com a lanternas de luz forense da maleta da Senasp e testamos com o novo equipamento.

Teste do Superlite 400 sobre as amostras preparadas para a oficina
de luz forense do Instituto de Criminalística de Alagoas executada em maio/12.

Fácil visualização, mesmo à distância. Isso facilita a busca de vestígios em áreas grandes.

Definitivamente a potência do novo equipamento é superior e permite fácil visualização das amostras. Mesmo à distância, como nas fotos acima.

Além de mim e Nicholas, participaram os peritos Cavalcante, Farias, Milena (documentoscopia) e a perita da Força Nacional. Também participaram peritos da Polícia Federal.

O equipamento testado faz parte do acervo do Instituto de Criminalística e as fotos aqui apresentadas foram todas produzidas no momento da instrução.

Pretendemos repetir os mesmos testes que fizemos com as lanternas de luz forense com este novo equipamento. Queremos verificar se realmente a potência maior facilita a pesquisa de vestígios.

Oficina de luz forense 2 - apresentação

Maleta da Senasp com todos os seus componentes.
No canto superior esquerdo, indicação do kit de luzes forenses.
(Lanternas, suporte e óculos - filtros)
No dia 14 de maio de 2012 executamos a oficina nas dependências do Instituto de Criminalística de Alagoas.

Inicialmente apresentei uma introdução teórica das luzes forenses. Como funcionam e porquê? Aproveitei boa parte do material da própria Senasp entregue com a maleta. Reforcei a utilidade e praticidade das lanternas e como elaboramos as "pranchas de comparação" (veja publicação anterior).



Nicholas incumbiu-se de facilitar a parte prática da oficina. Mostrou e disponibilizou as amostras originais que utilizamos para produzir as pranchas de comparação e deixou que cada perito testasse as lanternas fornecidas nas maletas.


Discutimos várias dúvidas como quais os melhores comprimentos de onda para detectar determinados tipos de vestígios (sêmen, saliva, suor, etc.) e quais filtros devem ser associados durante as observações dos vestígios. Ao mesmo tempo foi possível renovar as técnicas de coleta e registro destes mesmos vestígios.

Abaixo, diversos momentos da parte prática. Manuseio e testes com as lanternas e filtros.





Oficina de luz forense 1 - preparação

No último dia 12 de maio publiquei um comentário a respeito da "Manutenção da Criminalística". Apesar de todas as dificuldades podemos implementar soluções e obter resultados. Sem dúvida, é preciso um certo esforço.

A oficina estava marcada para 14 de maio de 2012, então foi preciso preparar o material.

Diante da doação das maletas de local de crime pela Senasp, tivemos um curso das maletas para saber operá-las em locais de crime. As luzes forenses fazem parte desta maleta e tínhamos a pretensão de aprofundar o conhecimento e uso deste novo equipamento.

Lanternas acionadas e filtros em forma de óculos.

Sequência de comprimentos de onda das lanternas fornecidas na maleta.
 A preparação consistiu em testar a eficiência do produto naquilo em que ele prometia fazer: identificar material latente mediante aplicação de luz e filtros determinados.

Produzimos 09 (nove) suportes de cores diferentes, todos em tecido (tricoline mista - 65% algodão e 35% poliéster) com 05 (cinco) fluidos diferentes (sêmen, urina, saliva, óleo vegetal e detergente) usando 08 (oito) lanternas do kit da maleta em combinação com 03 (três) filtros (amarelo, laranja e vermelho). Tudo isso forneceu 207 fotografias que depois foram editadas (cortes) para montar algumas tabelas de comparação.

Fotografia das amostras sob luz forense - mesa de trabalho.

Detalhe dos trabalhos de captura das imagens das amostras sob luz forense.

Exemplo de uma amostra fotografada. Observar que todos
os dados pertinentes à amostra ficaram registrados na própria imagem.
Uma vez produzida a coleção de fotografias, tivemos de editar as imagens para padronizar os tamanhos, ou seja, foram feitos apenas cortes para alinhar as imagens e facilitar a confrontação visual do conjunto de resultados. Abaixo uma imagem "bruta" de diversas amostras agrupadas sob o mesmo tipo de luz (branca).

Conjunto de imagens "brutas" com todas as informações na periferia das amostras.
Inclusive a foto mostra todas as variações de cores utilizadas no experimento.
Abaixo uma imagem acabada do conjunto de uma mesma amostra (sêmen) sob todos os comprimentos de onda:

Apresentação final do conjunto de imagens de uma mesma amostra.
Desta forma produzimos diversas "pranchas" de comparação. Podemos ver acima onde a mesma mancha de sêmen sobre um mesmo tipo de tecido (branco) melhor reage com os diversos comprimentos de onda de luz e filtros.

Evidentemente que alguns fatores não controlados influenciaram o experimento, mas para um primeiro momento entendemos que conseguimos suprir a necessidade da oficina prevista para o dia 14 de maio.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Plano Brasil Mais Seguro e meu plantão

Coleta de estojos.


Ontem estive em um local de crime fazendo levantamento pericial e o agente policial da Força Nacional me indagou se era corriqueiro, antes do Programa Brasil Mais Seguro, haver tantos casos de homicídio.

Eu não quis exagerar, às vistas das realidades de outros estados, mas disse que já tive madrugadas de entrar e sair de cenas de crime até o amanhecer. Ou seja, passar a noite fazendo levantamentos de assassinatos, que nem fumante inveterado, acendendo o próximo cigarro na bituca do anterior.

Na mesma hora ele comentou com um outro colega que num cálculo apriorístico haveria uma redução de cerca de 25% nos últimos 30 dias (o PBMS iniciou no dia 28 de junho). Então eu intervi e perguntei se isso não passaria de uma mera "flutuação" do número de homicídios. O colega dele confirmou prontamente e disse que somente após um período mais longo (um ano, ele mencionou) é que o número poderia se apresentar consistente para fins de estatística. Eu também achei, mas o governo sempre aproveita para fazer propaganda.

Acredito que qualquer pessoa iniciada na percepção ordinária dos fatos cotidianos da vida maceoense e alagoana saberá dizer que 30 ou 60 dias não faz uma cidade e um estado, culturalmente e historicamente violento, pacífico. As "frentes de trabalho" deverão se estender muito mais que os meros sobrevoos de aeronaves e inúmeros desfiles de viaturas. 

O Programa tem induvidosamente seus méritos! Nunca vi tanto delegado em cena de crime! E participando ativamente da investigação técnica! Isso é muito, muito bom! Tomara que o ótimo exemplo se perpetue entre os da casa. Traz uma satisfação enorme para o policial militar e o perito criminal saber que a investigação está sendo efetivamente presidida e impulsionada pelo interesse do serviço público.

Ontem saí da cena de crime com a sensação de dever cumprido. Encontrei-a isolada, idônea na medida do possível. Rica para o trabalho pericial. Investiguei, fotografei, coletei. Narrei toda a dinâmica plausível ao delegado atento e apresentei uma súmula do que conterá o laudo.

Uma simples presença do Estado e o estado das coisas se modifica.

Abaixo, algumas das etapas do trabalho pericial na última cena de crime:

Estudo do cone de dispersão na lâmina de vidro para
identificação do sentido do disparo de arma de fogo.

A fotografia é uma ferramenta fundamental para a Criminalística. Por isso, quase sempre, em local de crime, busco ou identifico situações que merecem especial atenção do fotógrafo. Na cena de ontem encaramos um pequeno desafio. Uma minúscula mancha de sangue (gotícula) não se apresentava na superfície do vidro quando fotografada com flash embutido e a curta distância (primeira imagem abaixo), portanto, deve o fotógrafo forçar uma segunda fonte de luz com uma lanterna com o facho rasante (segunda imagem abaixo). Assim se obtém a percepção de profundidade e salienta-se a informação de que a mancha de sangue realmente está naquela superfície (e não no verso da folha de vidro, o que resultaria em outra interpretação criminalística).


Acima, o efeito da segunda fonte de luz sobre uma mancha de sangue (gotícula apontada pela seta branca). Abaixo um exemplo clássico de ferimento produzido por projétil de arma de fogo na categoria de ferimento "de saída" - verificando-se as bordas evertidas (setas brancas).

Ferimento "de saída".