quarta-feira, 31 de julho de 2013

Conheça as instalações da Perícia Oficial de Alagoas

Perícia Oficial e Instituto de Criminalística.

O prédio é antigo e funcionava anteriormente um hotel (Hotel Beiriz). Recebeu reformas em todos os andares, mas de forma diferenciada pois o prédio foi ocupado por diversos órgãos. Ainda existe uma secretaria no primeiro andar. A Perícia Oficial ocupa o segundo, terceiro e quarto andares.

Vista panorâmica da fachada (Rua do Sol).

Vista da rua no sentido do tráfego. Ao fundo fica a Praça dos Martírios.

Vista oposta à foto anterior. Ao lado do prédio vê-se a Igreja do Rosário.

Vista da rua a partir do estacionamento lateral do prédio.
Setas mostram o acesso às dependências da PO.

Vista dos fundos do prédio (terreno elevado).
Setas mostram o mesmo acesso mencionado anteriormente.

Vista lateral do prédio, a partir do estacionamento lateral (clique para ampliar).

Abaixo vistas internas do prédio. É possível visualizar todos os andares. No quarto andar funcionam as salas administrativas da Perícia Oficial. No segundo andar a maioria das salas do Instituto de Criminalística, seção de perícias externas, com as salas das equipes e os alojamentos. O terceiro andar possui as salas administrativas e a balística.


Vista externa do quarto andar. Lagoa Mundaú ao fundo.


No terceiro andar, junto com o administrativo e a balística, existe apenas uma sala de equipe da seção de perícias externas. É nesta sala que cumpro meus plantões!

Sala da equipe ao lado da sala de custódia de vestígios.

Abaixo é possível apreciar a disposição dos apetrechos e equipamentos que utilizamos no dia a dia da perícia de campo (apenas uma das equipes - 4 a 5 peritos por dia para fazer de tudo - "clínica geral"). Não temos especialização na perícia externa.

Os novos concursados, muito, mas muito possivelmente mesmo, estarão em algumas destas salas para iniciar o trabalho se acostumando com a perícia externa. A mesma que venho relatando ao longo deste blog sob o marcador "plantões"!

Aguardamos vocês com bastante alegria!


quinta-feira, 18 de julho de 2013

Salário inicial de Peritos Criminais no Brasil

O salário do perito criminal não é um só para todo o Brasil.

Isso é próprio do sistema federativo onde cada Estado valoriza seus servidores conforme seu desenvolvimento econômico, legislativo e cultural.

A tabela abaixo ilustra bem essas diversidades do nosso país. No entanto, pode não estar bem atualizada, como é o caso do Estado de Alagoas que anuncia salário inicial de R$ 6.320,77 no último concurso aberto no dia 15 de julho deste ano (veja em: "Concurso para a Perícia Oficial de Alagoas").

Clique nas imagens para ampliar.




Fonte: Campanha pela valorização do Perito Criminal - ES.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Concurso para a Perícia Oficial de Alagoas


Sim, depois de 12 anos, "habemos" concurso para a Perícia Oficial do Estado de Alagoas!

Confiram o edital neste "link para o concurso".

Quem quiser conhecer um pouco mais da Secretaria de Defesa Social do Estado de Alagoas, basta conferir no link: Secretaria de Estado da Defesa Social.

E o link para a Perícia Oficial, se encontra na mesma página.

São cargos para Perito Criminal (diversas especialidades em nível superior específico, vinte vagas), Perito Médico-Legista (oito vagas), Papiloscopista (nível superior genérico, cinco vagas) e Técnico Forense (nível médio, quatro vagas).

O nível superior paga R$ 6.320,77 e o nível médio R$ 2.704,59, fora os acréscimos de adicional noturno e insalubridade.

Clique na imagem para ampliar.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Resumo do São João

Foram 09 (nove) levantamentos. Sete homicídios por arma de fogo, um com uso de arma branca e um acidente de trânsito (colisão ônibus x caminhão).

Percorri, em média, aproximadamente 44,6 km para chegar a cada um dos locais e tirei cerca de 94 fotografias para cada levantamento. No laudo aproveitei 39 fotos. É preciso dizer que muitas fotos são repetidas para minimizar erros de foco e enquadramento. Outras são registros de documentos ou detalhes que nem sempre irão para o laudo. Taxa de aproveitamento: 41,37%.

Contabilizo apenas as fotografias que tirei para o levantamento pericial. Existem outras que são mero registro fotográfico e uso para expressar nosso cotidiano na perícia.

Abaixo seguem os esquemas de lesões dos homicídios e um esquema de danificação de um dos veículos envolvidos no acidente de trânsito (primeiro levantamento daquele final de semana).


Esquema de danificação do ônibus (ilustração obtida por meio de fotografia).

Conforme mencionei em São João 1, o disco-diagrama do ônibus foi coletado do tacógrafo numa condição surpreendente. O aparelho estava praticamente pendurado para fora da cabine do motorista. Isso já mostra o tamanho do impacto e deslocamento que o aparelho suportou. E isso fica registrado no disco!

Somente agora, depois de terminar todos os levantamentos e analisar os dados conseguimos verificar os detalhes do que foi fotografado e coletado. O laudo ainda não está pronto, mas uma análise preliminar já foi feita, como abaixo ilustrado:

Registro do impacto (colisão frontal).




Os parâmetros sociais possuem níveis de ocorrências atrelados a determinados fatores já conhecidos. Geralmente, nos finais de semana, quando as famílias se reúnem e os amigos confraternizam nos bares, há facilidades de brigas, bebedeiras e até emboscadas de desafetos. Por isso os dias de sexta-feira, sábado e domingo são propensos a haver maior número de ocorrências de natureza criminal e mesmo acidentes (direção e álcool!).

Talvez tenha sido isso que me atingiu. Tirei meu plantão no dia 22 e substituí um colega no dia seguinte. O que me fez estender o plantão até a manhã do dia 24.

Suportei uma "oscilação" nestes dias. Coincidentemente tive de duplicar levantamentos pois somente eu estava mais próximo do seguinte (não compensa deslocar outra equipe quando uma está a poucos quilômetros da ocorrência seguinte).

Levantamentos mês a mês em 2013.

É interessante observar que em 02 (dois) plantões fiz metade das levantamentos do mês de junho, que já se tornou um "recorde" neste primeiro semestre! Observem o gráfico acima.

Repito, em dois dias trabalhei mais que cada um dos cinco meses antecedentes inteiros!

O mês de junho ainda foi completado com mais nove levantamentos (sete homicídios, um atropelamento, um acidente de trânsito e uma constatação).

Iniciei julho com mais dois levantamentos (gráfico acima).

sábado, 6 de julho de 2013

São João 4 - finalizando com a Força Nacional

Foram tantas as ocorrências no final de semana que a perícia da Força Nacional já havia feito seus três levantamentos diários em Maceió e no município vizinho de Rio Largo.


A partir daí, todos os demais casos ficam com a  perícia local. Ou seja, minha equipe!

Às 2h54 eu estava saindo para o bairro alto de Maceió.

LOCAL 03 (03h16) - Homicídio no Tabuleiro.

Caso de local relacionado (dois locais de crime), mas bem vinculados com itinerário de manchas de sangue entre o cadáver e o local do início da ação violenta.

Local imediato - cadáver.

Local relacionado - início da ação violenta.

A classificação de locais de crime é relativa. Nem todo local imediato contém o cadáver. Às vezes o local relacionado pode conter vestígios mais esclarecedores a respeito de toda a ocorrência. O cadáver, obviamente, possui importância afetiva e social de grande monta, mas para fins de investigação pode não conter os indícios que explicam a ação.

Neste caso o local relacionado continha apenas a maior mancha de sangue. Indicava o início da ação violenta consistente em disparos de arma de fogo.

Clique na imagem para ampliar.

Clique na imagem para ampliar.

O desafio foi fotografar com a pouca iluminação de que se dispunha no local.

A primeira imagem acima ilustra como o local era escuro. A claridade concentrada no lado direito da foto é o facho da lanterna LED apontada para a calçada onde se localizava a maior mancha de sangue.

Na segunda imagem temos o uso do flash embutido da câmera conjugado com disparo lento do obturador. O recurso da câmera chama-se "flash slow" e possui indicação em algumas câmeras semi-profissionais.

Vale mencionar que também utilizei a mesclagem de duas fotos para produzir cada imagem acima.

Dentre os ferimentos de arma de fogo, também verificamos alguns objetos na cena (foto abaixo).

Arrastamento recente na superfície do capacete da vítima.

Nem bem finalizamos os exames e recebemos notícia de mais um homicídio no município vizinho.

LOCAL 04 (04h58) - Homicídio em Rio Largo.

Ainda estava escuro quando chegamos no meu quarto levantamento pericial daquele dia.



Do mesmo modo utilizei o recurso do flash conjugado com o obturador lento. As duas imagens acima receberam tratamento para exibir o melhor possível qualquer iluminação na cena. O obturador lento sempre consegue exibir luzes distantes.

Também do mesmo modo que no local anterior, onde a investigação da delegacia de homicídios foi conduzida pela equipe da Força Nacional, muitos pormenores eventualmente interessantes para o esclarecimento do crime foram indagados e perqueridos à exaustão pelo delegado e seus agentes.

É estimulante sentir-se exigido por uma equipe destas. O delegado fez questão de confrontar rastros de pneumáticos e concluiu, pela análise dos ferimentos, que poderíamos recuperar o projétil que atingiu a vítima e estava enterrado no solo.


Também como no levantamento de São José da Laje (segundo levantamento do dia), identificamos efeitos secundários do disparo de arma de fogo contra esta vítima.



São sinais sutis da pólvora incombusta sobre a pele do cadáver. Por isso todo cuidado na hora da perinecroscopia. Não podemos deixar de verificar estes itens. Pode oferecer uma boa estimativa da distância de tiro e assim desenvolver algumas hipóteses do envolvimento entre vítima e agressor, p. ex.

Finalizamos os exames com o céu claro. E voltamos para o Instituto de Criminalística sob chuva.

Voltando pela Av. Fernandes Lima.

Ainda bem consegui deixar o Instituto sem extrapolar meu horário de plantão. Às vezes temos de fazer relatórios ou processar vestígios.

Em breve, resumo deste final de semana recordista em levantamentos de local de crime, ufa!

sexta-feira, 5 de julho de 2013

São João 3 - Continuando no dia 23

Nas primeiras 12 horas do plantão seguinte, domingo, não atendi chamados. Tirei a manhã e a tarde para organizar os dados do plantão anterior (cinco levantamentos). Foram quase 90 fotografias por exame em locais que distavam em média 90 quilômetros da capital (total de 446 fotos e 448 km percorridos).

Até então a média mensal de levantamentos não era tão alta. Fiz em um plantão o que não havia feito em todo o mês de maio!

Número de levantamentos ao mês (até a manhã do dia 23 de junho).

No meio da noite apareceu um chamado para Murici. E, ao finalizar os exames, chamaram para a cidade seguinte: São José da Laje. Ambos homicídios por arma de fogo.

LOCAL 01 (21h40) - Homicídio em Murici.


Observem que o isolamento do local foi executado por delimitação física, utilizando sinalizadores específicos (fita zebrada e cones) em um formato quadrangular. É o formato básico mais recomendado, mas tem suas considerações. (Veja ainda: Isolamento em local de crime - debate teórico).

A construção do menor perímetro para definir uma área de proteção é o triângulo. E nisso ele leva vantagem pela praticidade.


O quadrado se aproxima de uma circunferência, mas na prática ninguém vai abrir um círculo ao redor dos vestígios (não é apenas ao redor do cadáver!).

Fitas zebradas e cones conseguem definir uma boa área quadrangular. A única exigência para iniciar um bom isolamento de local de crime é estabelecer uma distância mínima do último vestígio detectado.


É neste momento que a delimitação em triângulo impõe enormes dificuldades. Não dá para garantir um bom distanciamento de uma das faces do triângulo para o último vestígio. O quadrado, por outro lado, estabelecido um distanciamento adequado (recomendamos pelo menos cinco metros) impede aproximações indevidas de curiosos e permite que o policial, p. ex., possa vigiar a circulação e aproximação de pessoas.

Outra vantagem do isolamento quadrangular com distanciamento adequado desde o último vestígio identificado é permitir a circulação interna da equipe pericial sem comprometer a integridade dos vestígios.


O isolamento em triângulo só oferece três regiões mais afastadas dos vestígios (que pode não se limitar apenas ao cadáver!) e ainda assim com poucas possibilidades de trânsito livre entre estas áreas. Já o quadrado, feito com bom distanciamento do último vestígio, oferece uma visão de 360 graus com boa possibilidade de preservação dos vestígios durante a circulação interna.

Enfatize-se que o distanciamento do cordão de isolamento deve ser "adequado" e alguns desses critérios são: a) garantir inacessibilidade de curiosos a qualquer dos vestígios; b) permitir a administração do local pela polícia; c) preservar os vestígios pelo próprio afastamento; d) permitir o trabalho dos peritos criminais, dentre outros.

Série de escarificações sobre o pavimento do logradouro.

Neste local a vítima chegou a ser alvejada quando já deitada no chão. Isso deixou marcas de impacto de projéteis de arma de fogo contra o pavimento da rua por uma área relativamente grande.

Enquanto estes vestígios são de firme fixação no suporte (talvez pudessem até suportar trânsito sobre eles), outros podem ser bem frágeis (foto abaixo).

Fragmento de dente sobre o asfalto.

No registro de um dos ferimentos utilizei dois tipos de iluminação com uso do mesmo flash embutido da câmera fotográfica. Flash direto e rebatido (com uso da prancheta). Vejam os resultados abaixo.

Teste de iluminação durante a fotografia.

Detalhe mostrando as diferenças de iluminação.

Novo exemplo de detalhe (clique na imagem para ampliar).

O controle de brancos estava no automático, por isso, provavelmente, no flash direto o controle manteve o branco. Com o rebatimento o controle "esquentou" a imagem (enfatizou o vermelho).

Obviamente nem todos os locais são de fácil administração da luz durante as fotografias. Estávamos no período noturno, sem chuva e com aglomeração de curiosos relativamente bem contidos. Foi possível fazer ao menos este teste.

Ainda constatamos um encamisamento de projétil dentro das vestes da vítima e detectamos um fragmento mínimo de chumbo sob as roupas.

Encamisamento de projétil de arma de fogo.


Não é tão difícil encontrar os encamisamentos de projéteis, embora os lugares onde podemos encontrá-los são os mais diversos possíveis! Interessante foi constatar o fragmento de chumbo. Mínimo, entre as roupas. O que sugere quão minuciosos podemos e, às vezes, precisamos ser em locais de crime.

LOCAL 02 (23h45) - Homicídio em São José da Laje.

Na saída do município de Murici, nos informaram de outro homicídio no município seguinte, seguindo a mesma rodovia. Foi apenas uma questão de ligar para a base e confirmar o novo levantamento.

Homicídio por arma de fogo e o inadequado isolamento "triangular".

 Novamente enfrentei o problema de registrar um ferimento perfurocontuso sob o couro cabeludo (foto abaixo).


Mas em compensação os ferimentos na face estavam bem caracterizados, principalmente pela tênue zona de deposição de grânulos de pólvora incombusta (efeitos secundários do disparo de arma de fogo).

Disparo de arma de fogo na extremidade do nariz.


Imaginem que a identificação sutil desses grânulos define o disparo a curta distância. Uma manipulação intensa pela equipe do IML e posterior lavagem do cadáver na mesa de exame necroscópico pode inevitavelmente destruir esses vestígios e eventualmente se perde a certeza desse tipo de ação violenta.

Terminamos o levantamento à 01h18 e chegamos no Instituto de Criminalística às 02h30.

Não demorei 24 minutos para sair novamente...