terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sociedade Brasileira de Ciências Forenses

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Inserimos novo link na barra lateral de "outros blogs relacionados". Não se trata de um blog. É uma página eletrônica que promove a pesquisa e ensino em Ciências Forenses. Vale a pena conferir!

"A Sociedade brasileira de Ciências Forenses é uma associação sem fins econômicos, voltada à promoção de pesquisas e ensino em Ciências Forenses, a estimular o contato entre profissionais da área, e o progresso das Ciências Forenses no Brasil (...)"

Confira também o estatuto.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Rui Barbosa - frase

 
"O primeiro de todos os deveres do homem, aonde quer que o leve a sua vocação ou a sua sorte, é a sinceridade, a verdade, a conformidade entre o que diz e o que sente, entre o que obra e o que diz."

... às vezes isso tem me dado uma dor de cabeça... (André Braga, funcionário público e blogueiro).

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Plantão do dia 05 de fevereiro

Depois de janeiro, com 13 levantamentos, iniciamos fevereiro com apenas um levantamento, por enquanto.

O Sistema de Gestão Operacional Unificado - Sisgou - registrou as ocorrências de cada um dos peritos plantonistas no dia 05 de fevereiro:


Percebam acima que nossa colega Suzana da Perícia da Força Nacional também estava de plantão e comentou comigo que estava tendo dificuldades em fazer fotografias à noite.

(Vejam um levantamento da Suzana neste link: "Plantão dia 11 de maio de 2013").

Coincidentemente o meu levantamento foi à noite e assim abusei da câmera para fazer testes.

Primeiro uma sequência de imagens do trajeto até a Central de Flagrantes e depois até o local dos exames (clique nas imagens para ampliar). Obviamente não foi utilizado o flash embutido.



No sentido horário, começando pelo canto superior esquerdo, seguimos a viatura da Polícia Civil que nos indicou o local dos exames. Na segunda imagem o registro da chuva que caía naquela madrugada (eram 4h36 no momento da foto). Choveu bastante em parte do trajeto (terceira imagem), mesmo assim abusei de tentar registrar a entrada do pólo industrial que fica na avenida Durval de Góes Monteiro tirando uma foto da minha janela com o vidro fechado (quarta imagem).

Nestas quatro primeiras imagens a viatura estava o tempo todo em movimento. Foi utilizada sensibilidade ISO 3200, diafragma f/4,2 compensação de exposição +2.0, usei o programa prioridade para obturador ajustado para 1/30 segundos. Embora seja uma velocidade muito lenta, a sensibilidade alta permitiu nitidez.

Usei também o redutor de vibração (VR), incluso em algumas objetivas Nikon.

Abaixo, ao estacionar a viatura, ainda fiz uma última foto de dentro da viatura. Não foi uma boa exposição. Não deu tempo para fazer novos ajustes. Desci e tirei fotos da fachada do imóvel a ser periciado.


Tirei duas fotos da fachada e abaixo mostro alguns detalhes de ambas.


O flash é uma luz branca e a câmera reconhece sua própria iluminação artificial quando acionada manualmente (no modo P) ou automaticamente (modo Auto). Se deixá-lo desligado a captura da imagem precisa receber ajustes de cor (controle de balanço de branco), mas costumo ser "preguiçoso" e ajusto posteriormente com o editor de imagem.

Observação: a D90 e a D7000, ambas da Nikon, possuem um ajuste fino de cores que dispensa qualquer uso de edição posterior, mas em perícia nem sempre tenho tempo de fazer ajustes finos.

A primeira característica marcante do uso do flash, e principalmente durante a chuva, é o "congelamento" dos pingos d'água! Vejam abaixo na primeira dupla de imagens comparativas (flash ligado à esquerda e desligado à direita):


Nas duas imagens acima percebe-se que a luz (amarela) do poste de iluminação pública ficou registrado num fio mais próximo. Mesmo com o flash a cor amarela não foi suprimida. Na segunda imagem o fio ficou muito próximo da borda da imagem.

Quando reduzimos a velocidade do obturador a tendência é os pingos d'água "riscarem" a imagem, como aparece na segunda imagem.

Abaixo a segunda dupla de imagens comparativas reforçam o "congelamento" dos pingos (indicados pelas setas brancas na primeira imagem).


Na terceira dupla de imagens, repetindo o mesmo local exibido na dupla anterior, tento indicar a presença de sombras e luzes que o uso do flash suprime quando ligado.


 Na primeira imagem registra-se apenas a luz do flash e assim ocorre o reflexo da parede vermelha sobre o cimentado molhado da calçada. Na segunda imagem, além de persistir o reflexo da parede, percebe-se ainda a luz que vem da porta aberta do imóvel a ser periciado. Essa mesma luz do primeiro cômodo é refletida no pavimento molhado (indicado por três setas brancas e nomenclatura).

Algumas vezes vemos coisas que nossas câmeras não sabem como registrar. Por isso é interessante estudar e fazer testes para, eventualmente, obter exatamente o que se visualiza a olho nu.

Este levantamento, feito de madrugada para examinar danos residenciais, me lembrou outra perícia que fiz em condições semelhantes, mas há oito anos (em 2006)! A chuva era a mesma com a desvantagem da inundação temporária da pista, mas o levantamento foi no final da tarde. Clique nas imagens para ampliar.



Retornamos para a base com o dia já claro.

Ao subir as escadas do Instituto de Criminalística, vemos o espaço em reforma do futuro laboratório do IC. Por enquanto utilizado apenas pelos felinos de ocasião!


***
Algo que sempre me deixa feliz pelo caráter de organização e informação são as placas de indicação e informação de diversas naturezas. Uma destas vi na Central de Flagrantes, quando fomos atender o local acima. Ela mostra todos os municípios de Alagoas e suas áreas de atendimento pela Polícia Civil. Isso é bom para o cidadão, mas é ótimo para o funcionário, que precisa saber para bom andamento de seu próprio trabalho.

No final do ano passado distribuí uma cópía do mapa rodoviário de Alagoas para cada uma das equipes plantonistas. Precisamos saber onde fica cada município. Ainda que existam outras fontes (celulares, p. ex.) o local de trabalho precisa lembrar e relembrar de suas rotinas para os funcionários.

Mapa de Alagoas e suas áreas de atendimento pela Polícia Civil.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Plantão do dia 30 de janeiro

O último plantão do mês de janeiro manteve a "tranquilidade" do penúltimo plantão, embora tenha demandado uma viagem e um levantamento de homicídio.

No município de Barra de Santo Antônio a solicitação era para periciar três imóveis em que seus moradores perceberam invasão em seus domicílios.


As fechaduras foram cuidadosamente violadas. Alguém com boa experiência no uso de chaves genéricas ou gazuas conseguiu abrir as portas e furtar pequenos objetos de pelo menos três residências na mesma madrugada!


Infelizmente os moradores já tinham manipulado excessivamente os objetos de interesse para perícia e ficamos sem ter muito material (papiloscópico, p. ex.) para coletar.

Eu e o motorista almoçamos na delegacia, a convite do delegado e seus agentes. Todos já se conheciam mutuamente de outros momentos.

A segunda ocorrência atendida foi um homicídio executado de maneira bem comum em Maceió. Vítima à pé alvejada por infratores em motocicleta. O evento é tão rápido e "limpo" que a maioria das testemunhas não consegue fixar a cena devido à emoção e pouquíssimos vestígios são deixados no local.

Segunda ocorrência atendida: homicídio em via pública.

Três disparos certeiros na cabeça.

Não atendi mais ocorrências neste dia.

Números de janeiro de 2014:

13 relatórios de levantamentos, mas o exame toxicológico não conta;
1083 fotografias dos levantamentos fotográficos;
415 fotografias utilizadas nos laudos;
103 páginas de laudos (apenas cinco laudos prontos, faltam sete);
1000 quilômetros percorridos para ir e voltar dos locais.

Números do ano passado (2013):

64 relatórios de levantamentos (alguns não requerem laudo);
4.639 fotografias dos levantamentos fotográficos;
1.843 fotografias utilizadas nos laudos;
836 páginas de laudos (em 46 laudos entregues);
10.200 quilômetros percorridos para ir e voltar dos locais.

Algumas tabelas do ano de 2013:

Quantidade de fotografias totais, usadas em laudos e páginas de laudos.

Distância total percorrida mês a mês.

Tempo médio de atendimento em local de crime mês a mês.

Observação: em agosto estive de férias e em outubro tirei licença médica, por isso os índices zeraram naqueles meses.

Com estes números é possível calcular itens interessantes. Por exemplo, se um perito, em média, percorre dez mil quilômetros no ano, 24 peritos (da gerência de perícias externas) podem vir a percorrer 240 mil quilômetros. Curiosamente, cada uma de nossas duas novas viaturas Pajero Dakar já estão com os odômetros marcando mais de 125 mil quilômetros cada uma. Parte das viagens também são feitas com as Paratis.

Se um perito chega a tirar quase cinco mil fotografias no ano, 24 peritos tiram 120 mil fotos. Uma câmera fotográfica reflex amadora (como a minha Nikon D90) suporta pouco mais de 40 mil cliques do obturador. Imagine que se o Instituto de Criminalística possuir duas câmeras deste tipo, muito provavelmente elas apresentarão defeito antes de terminar o ano!

É com base nestes dados simples que podemos fazer planejamentos seguros para manter um serviço ininterrupto e de qualidade para a população.

Veja mais sobre durabilidade de câmeras fotográficas nestes links: "sua câmera tem vida útil" (tabela de cliques) e "Quanto dura uma câmera digital?".

Plantão do dia 24 de janeiro

Ao longo do mês de janeiro os plantões foram se tornando mais "tranquilos". Na sexta-feira do dia 24 executei apenas um teste toxicológico na delegacia de homicídios da capital.

O "kit" de exame toxicológico encontra-se disponível em nossa central administrativa, ao lado das maletas doadas pela Senasp.

Kit de exame toxicológico disponível para os peritos.

Fizemos o deslocamento para a delegacia na mais nova viatura locada pelo Estado. Tinha pouco mais de 600 km rodados e nenhuma caracterização na carroceria.


Apenas sete quilômetros separam a sede da Perícia Oficial da Delegacia de Homicídios da Capital.


A metodologia consiste em se aplicar em papéis filtro uma sequência de dois reagentes para detecção de maconha e, noutro exame, aplicação de apenas um reagente para detecção de cocaína. Todos em forma de spray.

Reagentes (tubos), material (tablete e "bombinha") e papéis filtro impregnados.

Esfregam-se os papéis filtro no material, mas não é tão fácil "esfregar" um papel em um pó!


Resultado da aplicação dos sprays:


A coloração avermelhada na segunda foto é o sinal de que se trata de maconha.

Já para o teste de cocaína tive de criar uma estratégia para borrifar o spray no pó suspeito.


Como o pó não fica parado depois da borrifada, tive de borrifar primeiro um suporte (fundo de um copo plástico) para acumular o reagente em forma de líquido e em seguida jogar o pó sobre o reagente.


A primeira amostra apresentou-se apenas como farinha. Já a segunda amostra apresentou a cocaína, mas com muita farinha misturada (segunda imagem acima).

Imediatamente é lavrado um laudo toxicológico provisório por meio de simples preenchimento de um formulário.


O procedimento é tão simples que não conta como local para a minha equipe. No rodízio que fazemos para distribuição de trabalho essa é uma saída da base que só dá trabalho.

Por outro lado me questiono se é necessário um perito para apertar sprays em material suspeito. Certos procedimentos o próprio delegado poderia executar.

Ainda sobre o assunto critico bastante a falta de treinamento para este procedimento. É simples, mas detectar a mudança de coloração no material exige uma "educação visual" possível por simulação prévia. É constrangedor tentar enxergar alguma coisa azul ou vermelha pela primeira vez na frente de um delegado!

Depois de inaugurar o kit de exames toxicológicos ainda encontrei tempo para organizar a sala da equipe no Instituto de Criminalística. Vejam abaixo o antes e o depois da fixação de prateleiras para os sapatos de trabalho dos colegas.



O cabideiro já tinha sido fruto de meu esforço anterior. Agora cada sapato tem seu lugar marcado e, longe do chão, facilita a limpeza da sala.

Plantão do dia 18 de janeiro

Não atendi chamadas na manhã do sábado. Almocei com tranquilidade, mas à tarde atendi duas ocorrências no município de União dos Palmares (77 km de Maceió).

Eu só não sabia que eram eventos vinculados...

Ultrapassagens na rodovia BR-104 e a viatura do IML à nossa frente.

Espantei-me com as condições de conservação da delegacia de União dos Palmares. Muita poeira, uma televisão antiga e fios pendurados pelas paredes assustavam quem entrava no primeiro cômodo.

"Recepção" da delegacia de União dos Palmares.

Os policiais civis plantonistas não sabiam onde ficava o local da ocorrência (?), então nos dirigimos até o batalhão da Polícia Militar que nos conduziu até o local dos exames. Um policial civil foi transportado por nós para fazer os primeiros levantamentos de investigação.

Aguardando acompanhamento da Polícia Militar que conhecia o local dos exames.

O local era um povoado fora da área urbana de União dos Palmares, conhecido como "Muquém". Inclusive bem sinalizado por placas!

Vários povoados da região receberam placas indicativas de suas localizações. Isso é muito bom para o nosso trabalho e para a própria população que pode orientar melhor os visitantes.

Chegando ao primeiro local dos exames com o dia ainda claro. Viatura da PM na frente.

Vista panorâmica do local (mesclagem eletrônica de três imagens).

Já eram 18 horas e a luz natural se esvaía rapidamente. Obtive a imagem acima abusando do ISO alto e do tempo mais longo do obturador.

Meu segundo espanto no município foi saber que quase ninguém havia coletado dados da ocorrência. Quem mais sabia do caso era um repórter local (foto abaixo). Ele sabia o nome da vítima (nem a polícia militar, nem a polícia civil tinham nota deste dado) e outros aspectos do crime.


O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência já havia passado no local. A ocorrência em si se deu por volta das 12 horas daquele dia! O Centro Integrado de Operações da Defesa Social foi acionado muito depois. O Instituto de Criminalística mais tarde ainda e assim, depois da nossa viagem, chegamos praticamente 06 (seis) horas depois do homicídio.

O cadáver já estava em estado de rigidez cadavérica. Suportou ação violenta consistente em golpe de madeira na cabeça e três ferimentos perfuroincisos no abdômen.


A segunda ocorrência era próxima, dois quilômetros em linha reta atravessando um rio, mas precisamos percorrer 11 quilômetros de estrada para ir nas viaturas.


A partir daí perdemos todo o benefício da luz natural. A escuridão tomava conta de tudo.

Chegando no segundo local - iluminação dos faróis da viatura.

Iniciando o levantamento - iluminação do flash da câmera.

A relação entre os dois locais era esta: a vítima do segundo levantamento era o assassino da vítima do primeiro levantamento. Inclusive o instrumento do crime ainda estava com sangue na lâmina.


Neste segundo caso o instrumento utilizado foi arma de fogo. Às margens de uma rodovia na zona rural e com o isolamento e preservação eficiente da guarnição da Polícia Militar foi possível recolher dois estojos deflagrados.

Material recolhido no segundo local em União dos Palmares.

Voltamos para o Instituto de Criminalística às 20h38 e às 03h50 tivemos outra ocorrência. Desta vez no município de Flexeiras (60 km de Maceió).

Saímos na madrugada do domingo com as ruas praticamente desertas e a viatura do IML na nossa frente mais uma vez.

Saíndo para a terceira ocorrência de madrugada. Viatura do IML à frente.

Mesmo com pouco trânsito ainda observamos uma pequena colisão entre veículos na principal avenida de Maceió.


No percurso foi possível acompanhar o céu clareando com o amanhecer.


Já no acesso para o município de Flexeiras registrei a neblina na zona rural e as luzes da cidade.

Clique na imagem para ampliar.

Abaixo dois detalhes da imagem acima. O fotógrafo e parte do assunto: a cidade de Flexeiras ainda iluminada por luz elétrica.


Esta vítima não estava relacionada com as ocorrências anteriores, salvo pelo instrumento com que foi perpetrada a ação violenta: arma branca.

"Isolamento" do local: fita ao redor do cadáver coberto.

Foram vários golpes contra a vítima e a região da cabeça sofreu bastante.



Após o levantamento retornamos pela rodovia com o sol ainda baixo. E a sombra da viatura aparecia na vegetação que ladeava a estrada.


Fiz alguns testes com o tempo de exposição. Quanto mais lento, mais delineada ficava a sombra da viatura nos "borrões" da vegetação. Se mais rápido o obturador, mais definido ficava o fundo, começando a ser visível as folhas e galhos da vegetação. Vejam abaixo:


Aproveitei e fiz um registro exclusivo do fotógrafo! Ressalte-se que com a viatura sempre em movimento. A velocidade rápida do obturador minimiza as vibrações do veículo em movimento.


Por último, fotografei um casebre nas proximidades da rodovia.

A particularidade desta foto reside na nitidez do casebre em oposição ao desfoque e borrões de toda a vegetação ao redor da construção.

Clique na imagem para ampliar.


Como isso é possível? A dica é a seguinte: enquanto o veículo se movimenta mantenha a câmera apontada para o assunto e bata a foto. Tudo estará em movimento, por isso borra, menos o casebre que você focalizou e o manteve estável no centro do fotograma!

Dificilmente estas duas experiências serão utilizadas nos levantamentos comuns da perícia, mas uma fotografia jornalística, esportiva ou de aventura pode se aproveitar para registrar assuntos rápidos.