Na primeira ocorrência viajamos 167 km até Penedo. Durante o trajeto, registrei o pôr-do-sol com duas câmeras diferentes:
O primeiro local foi informado como de cadáver localizado dentro de uma canoa na margem do rio São Francisco. Já chegamos no período noturno.
Para todo o levantamento foi necessário usar o flash embutido da Nikon, mas fiz outro teste com o celular:
Neste caso, o celular funcionou no modo automático (1/4 s de exposição, em ISO 1250), apoiado nas mãos. Já a Nikon ficou sobre uma mesa (tripé) e foi ajustada uma exposição de 6 (seis) segundos em ISO 3200 no modo M (manual).
Obviamente os resultados são bem diferentes. Vejam detalhes do motor da canoa abaixo:
As imagens acima não receberam edição.
Depois de uma edição no Photoshop, é possível aproveitar as imagens do celular:
No entanto a qualidade das cores e dos detalhes é sofrível:
Fiz outra experiência com a Nikon acionando o flash embutido:
No plano panorâmico é facilmente percebida a diferença de iluminação entre o primeiro e último plano da imagem.
No modo P (Program) o acionamento do flash impõe uma exposição de 1/60 segundos. Neste caso é possível dispensar o tripé.
Não cheguei a combinar a exposição longa com flash acionado para somar as vantagens das duas situações.
O segundo local foi em Maceió. Como nosso retorno foi demorado, todo o tumulto inicial já havia se dissipado. Principalmente depois do resgate dos Bombeiros Militares. A vítima foi eletrocutada no alto de um poste de iluminação pública e ficou presa nos fios.
A presença maciça de celulares com câmera nas mãos de cada cidadão faz com que imagens, até instantâneas, sejam facilmente obtidas:
Apesar da baixa qualidade de iluminação e detalhes, é possível extrair algumas informações do evento. Quando exploramos a “resolução de saída”, este tipo de imagem atende perfeitamente postagens de internet e até impressão em pequeno tamanho.
Por mais volume de imagens que se obtenha do contexto da situação é no acesso privilegiado que o perito tem que se obtém os detalhes que definem a ocorrência:
Marca de Jellinek |
Imediatamente na sequência, o terceiro local foi um homicídio duplo, noutro bairro de Maceió.
A ação violenta foi cometida com emprego de arma de fogo e arma branca (faca peixeira):
Para definir bem alguns ferimentos precisamos da fotografia de detalhes. O problema é que as objetivas mais acessíveis não possuem a função macro. Por mais que nos aproximemos do assunto, uma boa parte da imagem fica sem assunto relevante por causa da limitação da distância de foco.
Quase 90% da imagem não são aproveitados, mas usando uma resolução alta, podemos fazer recortes (diminuindo o tamanho da imagem) e obter o detalhe com qualidade satisfatória:
No caso de uma câmera com 12 Mpixel de resolução total, a imagem recortada fica com 1,1 Mpixel. Isso oferece uma imagem impressa de aproximadamente 10 x 9 cm. Suficiente para uma ilustração de laudo.
No dia seguinte atendemos local de acidente de trânsito. Colisão entre veículo e motocicleta.
Tivemos algumas vantagens. Eram 5h da manhã e o céu estava encoberto.
Desta forma tivemos ausência de sombras “fortes”, boa luminosidade, e, sendo cedo, o trânsito estava tranquilo e sem aglomeração de pessoas!
A luminosidade é suficiente para fotografias panorâmicas, mas para detalhes é interessante usar a técnica do “flash de preenchimento”:
Algumas áreas escuras são reveladas pelo flash acionado, ainda que o automatismo da câmera o dispensasse:
Cabe alertar que o acionamento manual do flash não é possível no modo automático da câmera. É preciso selecionar um modo que isso seja permitido.
Por fim, vamos para algumas observações:
1) o registro fotográfico de um local de crime estático dispensa habilidades de fotografia de assuntos em movimento. As primeiras imagens aqui postadas buscaram apenas demonstrar as capacidades dos equipamentos, mas servem como excelente exercício de domínio de outras técnicas fotográficas;
2) a versatilidade de ajustes de uma DSLR ainda é superior às capacidades atuais dos melhores celulares com câmera embutida. Não significando dizer que não possam ter seu espaço na perícia. Cabe discutir meticulosamente a forma de sua utilização para o resultado que se espera de um levantamento fotográfico pericial;
3) imagens editadas não devem ser desprezadas. O objetivo deve ser o de melhorar a informação visual que se pretende transmitir. Como contraprova, todas as imagens originais precisam estar arquivadas e disponíveis;
4) imagens de terceiros não podem ser desprezadas. A presença de câmeras em todos os lugares e nas mãos de todo cidadão, registra eventos numa rapidez que ultrapassa a velocidade do Estado de atender estes mesmos eventos. A função de “olho da Justiça” foi relativamente repassada, mas obviamente as imagens precisam de um “filtro técnico” para se avaliar sua idoneidade e serventia. Os detalhes e a qualidade ainda continuam nas mãos do Estado. Só o perito tem acesso privilegiado ao local com os equipamentos adequados;
5) a ausência de equipamentos específicos não impede um bom registro fotográfico. Certo número de técnicas pode dispensar certas aquisições;
6) para qualquer tipo de levantamento fotográfico é importante conhecimento técnico básico e intimidade mínima com o equipamento disponível. O primeiro passo é consultar o manual da câmera e o segundo conhecer as técnicas que garantam os resultados pretendidos. Aproveitar sempre para treinar.