segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Plantão 14 de setembro - Residuográfico e homicídios

Dia 14 de setembro é o aniversário da minha mãe, mas, mais uma vez, eu estava de plantão! É essa uma das desvantagens do plantão. Às vezes trabalhamos nos dias mais estimados. E já que a regra é a prontidão, sempre, lá estava eu no IC, aguardando chamadas para o que der e vier.

No entanto, plantão não é só estado de espera, às vezes fazemos coisas diferentes, mas necessárias ao trabalho. Neste plantão, tive de trocar a resistência elétrica do chuveiro do alojamento dos peritos!


É uma tarefa da manutenção, mas ela não funciona no sábado. Então substituí a peça. Visando melhorar nosso ambiente de trabalho eu já havia disponibilizado shampoo e sabonete líquido para o alojamento. Não precisamos de sofisticação, mas conforto é sinônimo de tranquilidade e satisfação para desenvolver um bom trabalho.

Abaixo uma visão da nossa copa. Ainda não havia ilustrado ela no link "Conheça as instalações da Pericia Oficial de Alagoas".

Vista geral da copa do IC/AL.

Repito, pode parecer irrelevante, mas boa estrutura de trabalho e suporte é essencial para desenvolver um bom trabalho pericial.

LOCAL 01 (01h18) - Morte suspeita em Coruripe.

Às 22h35 fomos chamados para examinar um corpo encontrado dentro de residência. Suspeita de estrangulamento. Em meia hora estávamos na estrada. Foram 87 km desde Maceió, mas ainda tivemos de percorrer mais 25 km até o povoado de Bota Fogo onde estava o local a ser examinado.

A instrução era de que deveríamos nos deslocar até o Grupamento da Polícia Militar (GPM) do povoado de Pindorama. Ali estaríam os policiais que nos escoltariam até o local.

Infelizmente não foi o que aconteceu...


Ficamos apenas alguns minutos na frente do GPM. Sem qualquer presença policial decidimos entrar no povoado com as luzes de advertência ligadas na esperança de que fôssemos avistados.

Felizmente foi o que aconteceu!

Nos encontraram trafegando aleatoriamente pelo povoado e assim também encontramos o local.

Numa pequena vila de casas geminadas, construídas para aluguel, estava o cadáver no piso da sala. Registrei duas curiosidades do caso. Na primeira delas, chamava a atenção o escurecimento das extremidades dos dedos de ambas as mãos.


Examinando mais próximos, ficava claro tratar-se de restos de maquilagem! A vítima estava removendo a maquilagem do rosto quando veio a falecer.

A segunda curiosidade foi a ocorrência de fauna cadavérica (formigas). Embora tratasse de residência, nem todas são tão asseadas. E também dependendo das condições do cadáver (sujidades de alimentos, p. ex.) os sinais podem se manifestar rapidamente.


Na sequência abaixo é perceptível os níveis de proximidade das costas com o piso e o perímetro de atuação das formigas. As manchas de hipóstase já estão instaladas.


A conclusão destas últimas duas sequências fotográficas é a de que transcorreu um bom período de tempo entre o óbito e a chegada dos peritos no local. O relato mencionava 16:00 quando da descoberta do cadáver. Nós chegamos no local à 01:18 da manhã!

Embora pareça que a perícia demorou nove horas para chegar ao local é preciso dizer que 16 horas foi a hora da descoberta do cadáver naquela povoado distante 25 km de um pequeno centro urbano. A delegacia só tinha um policial que já havia sido advertido por "abandonar" a delegacia noutra oportunidade e por isso não se deslocou até o povoado vizinho. Os policiais militares se circunscrevem a aguardar, ao menos a perícia. O IML recolhe o cadáver e todos vão para casa.

Espera-se que a investigação se inicie e se conclua em algum outro momento posterior. Infelizmente essa é uma das consequências do efetivo reduzido das diversas instituições da Segurança Pública Estadual.

Pelos vestígios constatados no local não ficou clara a causa da morte. Possivelmente os exames cadavéricos empreendidos pelo IML deverão mencionar alguma relação à excesso de bebida alcoólica.

LOCAL 02 (08h00) - Residuográfico na Delegacia de Homicídios de Maceió.

Retornei ao IC às 03:46, mal dormi duas horas e às 06:00 havia outra chamada para o município de Paripueira. São 36 km no sentido contrário ao de Coruripe.

Eu estava convicto de que não aguentaria outra viagem então pedi a um colega para me substituir. No entanto, imediatamente surgiu mais uma chamada para efetuar coleta de resíduos de pólvora em seis suspeitos na delegacia de homicídios de Maceió. Não pude negar ir.

O exame residuográfico atualmente feito em Alagoas utiliza coletores chamados "stub". São pequenos adesivos protegidos em frascos plásticos que posteriormente são submetidos a uma varredura microscópica por um microscópio eletrônico.


Já na delegacia solicitei uma sala e distribuí o material na mesa. Para cada suspeito são utilizados dois frascos. Um para cada mão. Lacra-se tudo e envia-se para o laboratório.


Só tem um detalhe: em Alagoas ainda não temos o MEV (Microscópio Eletrônico de Varredura). Conforme a necessidade, o material é enviado para outros estados.

Em São Paulo existe um equipamento deste tipo:

MEV da Polícia Técnica de São Paulo.

Técnicos utilizando o MEV - São Paulo.

Fonte das imagens e notícia completa: http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/lenoticia.aspx?id=31928#2

Só deixei a delegacia por volta das 10:30. Deixei o IC às 11:00, devido à burocracia da cadeia de custódia da coleta. Cheguei em casa ao meio-dia. O plantão havia terminado 4 horas atrás.

2 comentários:

  1. boa noite, mais uma vez estou aqui vendo suas postagens muito boas. Estou na espera do concurso aqui em São Paulo para perito espero passar e entrar neste incrível mundo da pericia oficial. Se você me permite vou passar o link do seu blog para o pessoal de um grupo de estudos para perito.
    Parabéns pelo trabalho.

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    1. Obrigado mais uma vez, Jorge! Agradeço a divulgação das informações veiculadas por aqui. Abraço.

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