quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Plano Brasil Mais Seguro e meu plantão

Coleta de estojos.


Ontem estive em um local de crime fazendo levantamento pericial e o agente policial da Força Nacional me indagou se era corriqueiro, antes do Programa Brasil Mais Seguro, haver tantos casos de homicídio.

Eu não quis exagerar, às vistas das realidades de outros estados, mas disse que já tive madrugadas de entrar e sair de cenas de crime até o amanhecer. Ou seja, passar a noite fazendo levantamentos de assassinatos, que nem fumante inveterado, acendendo o próximo cigarro na bituca do anterior.

Na mesma hora ele comentou com um outro colega que num cálculo apriorístico haveria uma redução de cerca de 25% nos últimos 30 dias (o PBMS iniciou no dia 28 de junho). Então eu intervi e perguntei se isso não passaria de uma mera "flutuação" do número de homicídios. O colega dele confirmou prontamente e disse que somente após um período mais longo (um ano, ele mencionou) é que o número poderia se apresentar consistente para fins de estatística. Eu também achei, mas o governo sempre aproveita para fazer propaganda.

Acredito que qualquer pessoa iniciada na percepção ordinária dos fatos cotidianos da vida maceoense e alagoana saberá dizer que 30 ou 60 dias não faz uma cidade e um estado, culturalmente e historicamente violento, pacífico. As "frentes de trabalho" deverão se estender muito mais que os meros sobrevoos de aeronaves e inúmeros desfiles de viaturas. 

O Programa tem induvidosamente seus méritos! Nunca vi tanto delegado em cena de crime! E participando ativamente da investigação técnica! Isso é muito, muito bom! Tomara que o ótimo exemplo se perpetue entre os da casa. Traz uma satisfação enorme para o policial militar e o perito criminal saber que a investigação está sendo efetivamente presidida e impulsionada pelo interesse do serviço público.

Ontem saí da cena de crime com a sensação de dever cumprido. Encontrei-a isolada, idônea na medida do possível. Rica para o trabalho pericial. Investiguei, fotografei, coletei. Narrei toda a dinâmica plausível ao delegado atento e apresentei uma súmula do que conterá o laudo.

Uma simples presença do Estado e o estado das coisas se modifica.

Abaixo, algumas das etapas do trabalho pericial na última cena de crime:

Estudo do cone de dispersão na lâmina de vidro para
identificação do sentido do disparo de arma de fogo.

A fotografia é uma ferramenta fundamental para a Criminalística. Por isso, quase sempre, em local de crime, busco ou identifico situações que merecem especial atenção do fotógrafo. Na cena de ontem encaramos um pequeno desafio. Uma minúscula mancha de sangue (gotícula) não se apresentava na superfície do vidro quando fotografada com flash embutido e a curta distância (primeira imagem abaixo), portanto, deve o fotógrafo forçar uma segunda fonte de luz com uma lanterna com o facho rasante (segunda imagem abaixo). Assim se obtém a percepção de profundidade e salienta-se a informação de que a mancha de sangue realmente está naquela superfície (e não no verso da folha de vidro, o que resultaria em outra interpretação criminalística).


Acima, o efeito da segunda fonte de luz sobre uma mancha de sangue (gotícula apontada pela seta branca). Abaixo um exemplo clássico de ferimento produzido por projétil de arma de fogo na categoria de ferimento "de saída" - verificando-se as bordas evertidas (setas brancas).

Ferimento "de saída".



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