terça-feira, 16 de outubro de 2012

Quantos servidores são necessários para executar uma tarefa?

Fazendo alusão àquelas anedotas de quantos indivíduos são necessários para se executar algum serviço, alguém bem criativo inventou esta história:

Extraído do endereço: http://blogdocharlie.wordpress.com/

Comentário no final.

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Quantos policiais são necessários para trocar uma lâmpada na delegacia?


O Delegado passa e vislumbra a lâmpada do corredor apagada, assim indaga o Chefe dos Escrivães sobre os fatos, esse, alega não saber o ocorrido, então chama o Chefe dos Investigadores, que também alega não ser sua competência tal mister.
O Delegado então expede ordem de serviço para os investigadores procederem às investigações quanto o porquê da lâmpada estar apagada, Após inúmeras diligências apresentam o relatório que a lâmpada está queimada, assim, não é possível realmente saber o motivo, pois, não são experts no assunto.
Diante disso, o Delegado instaura procedimento apuratório repassando ao Escrivão a autuação e registro, constando na Portaria a necessidade de solicitar perícia local para que o Perito Criminal realize perícia, bem como a inquirição dos funcionários para investigar se alguém sabia do ocorrido. Após todos serem ouvidos, nada foi constatado de irregular alusivo àquele fato. Acionado o Perito juntamente com a sua equipe comparecem no local e o Perito constata que a lâmpada está "queimada", porém, alega que tal perícia deverá ser feita pelo setor técnico específico do Instituto de Criminalística, tendo então o Escrivão novamente que expedir requisição ao setor competente. Logo comparece o Perito do setor específico e após periciamento, expede o laudo técnico relatando que o filamento de tungstênio está rompido, não havendo circulação de corrente elétrica, logo não há emissão de luz e calor. O Escrivão juntou o laudo ao procedimento e fez concluso ao Delegado que diante do noticiado exara nova ordem de serviço aos Investigadores com o fito de pesquisar preços de lâmpadas para adquirir. Após exaustivas diligências os Investigadores ofertam relatório com os devidos preços. O Delegado determina ao Escrivão que solicite junto ao Departamento verba para comprar tal lâmpada. Todavia o Departamento alega que não irá encaminhar a verba, pois há uma lâmpada no estoque para que seja encaminhada à Delegacia, mediante ofício. O Escrivão lavra o ofício em 3 vias e após rubrida do Delegado os Agentes vão até ao Departamento para retirar a lâmpada. Voltam para a Delegacia sob alegação de que o ofício não estava endereçado ao setor competente, sendo refeito pelo Escrivão, após perceber a "cara feia" dos Agentes e esses retornam ao Departamento. Logo depois logram êxito em trazer a lâmpada para a Delegacia.
Nova inquirição é realizada aos funcionários para se saber quem teria conhecimento ou obrigação de trocar a lâmpada "queimada" pela nova lâmpada. Tal missão acabou recaindo para o Chefe dos Escrivães que sob a supervisão do Delegado foi trocar a lâmpada, momento em que o Chege dos Investigadores acionou o interruptor um "flash" de luz iluminou o corredor, em milésimos de segundos, voltando a ficar escuro novamente. O pânico toma conta da Delegacia e o Delegado determina ao Agente de Telecomunicações que acione a perícia local o mais rápido possível.
O Perito novamente comparece na Delegacia e novamente alega não ser de sua competência e sim do setor técnico especializado. Novamente o Agente de Telecomunicações expede mensagem e novamente o Perito responsável atraca no local e após profunda análise informa que a lâmpada instalada ali é para circuitos de tensão 110V, porém ali funciona um circuito elétrico de 220V.
O Delegado determina que de novo se entre em contato com o Departamento para solicitar outra lâmpada. Contudo o Delegado do Departamento indaga e estranha o novo e repetido pedido, tendo o Delegado da Delegacia informado os fatos. Assim o Delegado do Departamento ciente do ocorrido não pestanejou e informou a Corregedoria dos fatos. A Corregedoria instaurou Apuração Preliminar para investigar se houve desmazelo por parte dos funcionários com o material público, solicitando cópia integral dos autos e intimando todos os policiais. O Chefe dos Escrivães alegou não ter conhecimento técnico para tal labuta, sendo determinado pelo Delegado, apenas cumpriu ordem. A Autoridade presidente da Apuração entendeu que não houve dolo na ação do Escrivão e arquivou a Apuração.
Após isso o Delegado expediu novamente Ordem de Serviço para os Investigadores pesquisarem lâmpadas de 220V e novamente após árduas diligências restou o relatório com os devidos preços. Então o Delegado determinou ao Escrivão que solicitasse ao Departamento verba para comprar a tal lâmpada. Foi respondido pelo Departamento que devido ao baixo valor não seria possível disponibilizar a verba, pois o trâmite é burocrático e iria se gastar mais em papel do que a própria verba e que era para o Delegado aguardar que eles iriam realizar uma licitação para várias Delegacias com o objetivo de haver economia processual e assim mandar a lâmpada para a Delegacia. Passaram-se uns dias e após tudo isso a lâmpada foi encaminhada a Delegacia, porém o Escrivão asseverou que não iria trocar a lâmpada, pois quase foi repreendido na Corregedoria e não queria atrasar sua promoção que espera há mais de 10 anos. O Delegado determinou aos Investigadores que descobrissem como que é realizada tal troca para que eles assim o fizessem, mas desta vez restou infrutífera a diligência. Diante da negativa de todos os funcionários um Carcereiro que ali estava disse que havia um detido que está no (regime) semi-aberto e ele é eletricista e poderia utilizar tal serviço como pena alternativa da sua prisão. O Delegado não teve dúvida, oficiou ao Juiz do Fórum respectivo da condenação do preso e informou-o dos fatos, representando para que fosse autorizado tal préstimo do detento. Após análise do Ministério Público o Juiz aceitou tal pedido e autorizou que o detento praticasse a boa ação. Assim, em menos de 2 anos a lâmpada foi trocada, iluminando aquele corredor por 10 dias, até a chuva que infiltrou no teto e pingou na lâmpada, queimando-a novamente.


Comentário:

Embora tenha sua parcela de hilário, o texto é cruel ao detectar falhas gritantes na dinâmica da gestão pública. Fundamentando-se em motivos até razoáveis, como o registro de todas as ações públicas, cumprimento da legalidade administrativa e economia dos processos e produtos, fica a mensagem da clara "miopia" dos envolvidos. Ninguém parece perceber a limitação que o próprio sistema impõe. Ninguém faz nada com receio de errar. Parece não existir o vislumbre do objetivo. Parecem não traçar uma meta. A prática comum é cumprir o cotidiano meticulosa e escrupulosamente dentro de uma legalidade e responsabilidade conveniente: a que não me imponha grandes ônus (físicos e ou legais). Com isso esmagamos a criatividade e a ousadia de tentar o diferente para atingir o verdadeiro objetivo do serviço público: servir!

A burocracia, necessária, por vezes, sufoca.

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