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Messias conduzindo a viatura. |
Saímos do IC às 8h48 e retornamos às 16h27, então em 7 horas e 39 minutos percorremos 396,6 km atendendo três locais.
Ao chegar no IC fiz a baixa de todos os dados (GPS, fotos e informações do relatório de plantão). Nos moldes já explicados anteriormente. (Veja em: O laudo pericial - rotina prática). É preciso manter as memórias eletrônicas livres e as baterias carregadas para os próximos atendimentos (GPS, câmera e lanternas). E eles vieram...
SAÍDA DA EQUIPE (À NOITE).
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Itinerário para os dois locais na região metropolitana. |
Atravessando a ponte Divaldo Suruagy (acesso para Ilha de Santa Rita e litoral Sul). |
LOCAL 04 (23h31) - Homicídio no Povoado Santa Rita.
Acesso ao local e viatura na parte alta. |
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Manchas sobre o solo úmido (aplicação de filtros para impressão de fotos). |
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Posicionamento diferenciado do cadáver (apoio pelos joelhos e peito). |
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Correspondência lógica entre dois ferimentos. |
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Detalhamento dos orifícios de entrada e saída. |
Justificadamente a saída possui dimensão menor que a entrada, pois a entrada do projétil se deu de forma oblíqua ao plano da pele (formato elíptico regular) e o de saída de forma ortogonal ou perpendicular.
Observar ainda que a comparação dos ferimentos é possível pelo fato de ter sido feita a "medição" dos assuntos fotografados com a aposição da escala adequada. O corte da imagem possui a mesma dimensão nas duas fotografias.
Dali partimos para o segundo local dentro do mesmo município.
LOCAL 05 (00h31) - Homicídio em Marechal Deodoro.
Último atendimento do plantão do dia 22 (madrugada do dia 23). |
Quem passava pelo local, num primeiro olhar, pensaria tratar-se de colisão veículo X bicicleta, mas na verdade a vítima transitava na bicicleta quando foi alvejado por três disparos de arma de fogo.
Apesar da iluminação pública no local, as condições de luminosidade nem sempre são favoráveis. É preciso o uso de lanternas fortes para vasculhar vestígios e ferimentos. Neste aspecto é interessante verificar que o que vemos em fotografias não é necessariamente o que vemos no local (foto abaixo).
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Diferenças de fontes de luz. |
Quando utilizamos lanternas, estas nos fornecem apenas uma pequena área de luminosidade ótima. Nosso olhar e manipulação deve andar com esta pequena circunferência clara. É como se fosse uma "janela". Tudo ao redor fica um pouco mais escuro.
O flash da câmera difunde uma luz muito clara em uma área muito maior e isso facilita na hora da fotografia. Mas também só para ela! Por isso alguns vestígios só percebemos depois, no seu conjunto fotografado.
Além disso existe a "temperatura" da luz. A lanterna de LED nem sempre fornece o contraste interessante que o flash (mais branco) oferece. Mesmo sendo as duas fontes "brancas". Então, sabendo disso, constato determinados vestígios por minuciosa busca (geralmente manchas de sangue) e tiro fotografias panorâmicas que sei que serão "percebidas" pelo contraste oferecido pelo flash.
Vale dizer que issos só funciona à noite. Sob o sol a técnica é outra!
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Três disparos de arma de fogo contra a vítima. |
Acima já se percebe a falta da escala na última foto. Tive dificuldades por causa das características do cabelo, encarapinhado e denso.
A deontologia do trabalho manda registrar os achados criminalísticos de modo irrefutável dentro das técnicas disponíveis. Se o perito constata ferimentos, possui ele a "fé de ofício" de ser acreditado no que viu. Mas, com tanto avanço técnico, é indiscutível que ele pode perfeitamente "provar" seus achados.
As fotografias gerais já possuem esse objetivo. Ilustram para o julgador, o que foi percebido pelo perito. Mas fotografar como um jornalista faria para noticiar um crime não é o bastante. É preciso ir além.
No caso presente, existe uma técnica que é a de raspar o cabelo nas proximidades do ferimento e revelar seus detalhes, mas não é uma prática em Alagoas. Outros colegas fazem isso em outros Estados.
Na ausência de recomendação técnica específica, amarguei ilustrar apenas a localização do ferimento de entrada de arma de fogo. Mas é um ponto altamente interessante para se discutir e regulamentar.
Estas ressalvas valem apenas para exame em local de crime. Em se tratando de exames necroscópicos, todos esses obstáculos são vencidos.
Final dos exames - fixação da pulseira de identificação. |
Retornamos para o IC à 1h29 da manhã do dia 23. Consegui dormir cerca de 3 horas para iniciar o segundo plantão.