domingo, 9 de junho de 2013

Plantão dia 07 de junho - cadê da polícia?

PERÍODO DIURNO (Local 01)

Sexta-feira, dia 07, a cidade se organizando para o final de semana. Em São Luiz do Quitunde, cerca de 60 km de Maceió, é encontrado um cadáver de um jovem. Há aproximadamente dois dias desaparecido. Estado de putrefação esperado.

Tivemos que passar na delegacia para pegar o policial que nos indicaria o local onde estava o cadáver. Não havia policiamento militar no local. O delegado, que estava na cidade, também não foi para o local...

Primeiro local no litoral norte do Estado.

O corpo estava em local aberto, descampado e população curiosíssima para se aproximar e observar tudo de perto. As pessoas chegam a correr atrás das viaturas para chegar ao mesmo tempo que os policiais e peritos!

Infelizmente, nenhum tipo de isolamento, preservação ou custódia do local de encontro de cadáver.

População se aglomerando no local.

E, como sempre, recolhido o cadáver, a população desaparece! Percebe-se nitidamente que a curiosidade mórbida gira somente em torno do cadáver. E, como neste caso, a vítima não precisa nem estar identificada.

Final dos exames. Local vazio de curiosos.

Uma das explicações que já ouvi sobre isso é a ânsia do indivíduo de poder comprovar que não foi ele que morreu, mas aquele que ele olha. Coisas da psicologia...

Vale lembrar que os exames periciais não se resumem ao cadáver. O "corpo de delito" envolve todos os vestígios, sejam eles objetos, cadáveres, marcas, sinais ou quaisquer evidências que tenham vinculação com o ato delituoso. Tudo precisa ser periciado. O final dos exames na verdade se dá no local. Busca de elementos materiais, medição da área, registro da configuração ambiental, etc.

A polícia militar faz a manutenção da ordem e a polícia civil faz as investigações preliminares, enquanto o local ainda está "quente", ou seja, ainda possui facilidade de encontrar informação recente a respeito dos fatos, principalmente junto aos cidadãos, familiares e vizinhos da vítima.

Infelizmente também comprovei que meus colegas do IML ainda não estão completamente informados a respeito do descarte adequado dos materiais de uso individual, como luvas e máscaras (fotos abaixo).


Já se insistiu sobre isso em cursos internos do Instituto de Criminalística. Não se pode deixar esse tipo de material em nenhum local. É considerado lixo hospitalar. Certamente teremos de reforçar isso em novos treinamentos ou até mesmo em avisos nos quadros de avisos das instituições.

Na volta para o Instituto de Criminalística tive uma surpresa no parabrisa da viatura!

O que é isso no parabrisa da viatura?

Consegui fotografar essa espécie de vespa que se enganchou no limpador do parabrisa. O vento do deslocamento não a deixou soltar a palheta. No primeiro quebra-mola ela nos deixou! Coisas da natureza...


PERÍODO NOTURNO (Locais 02 e 03)

Início da noite e informação de que houve uma colisão moto x veículo na rodovia BR-316, próximo ao município de Palmeira dos Índios. Percorremos 123,2 km até o local (no meio do caminho recebemos informação de um segundo local).

Itinerário durante a madrugada - locais 02 e 03.

Antes mesmo de alcançarmos o local do acidente, cruzamos com uma patrulha da Polícia Rodoviária Federal. O agente informou que o veículo do IML já havia recolhido o cadáver.

Fiquei sem entender, pois o recolhimento de cadáver a ser periciado em local de crime/acidente só se dá com fixação da pulseira de identificação de cadáver, de cor vermelha.

Chegada ao local do acidente. Sem cadáver! Sem policiais.

Vestígios do acidente. Manchas de sangue inclusive.

Capacete abandonado.

Não deu nem para usufruir a frustração desse local, pois houve outra chamada no município vizinho de Igaci (mais 45,5 km à frente). Homicídio por arma branca (embora houvesse sido informado que a arma era de fogo!).

Desta vez o local era fora da rodovia, cerca de 3,2 km na zona rural.

Ao menos desta vez a polícia militar nos fez companhia e nos guiou até o local, mas nada da polícia civil (que era da mesma delegacia plantonista do local anterior).

Fotografia sem flash com uso combinado da lanterna (seta indica cadáver).

No local só havia um poste particular de iluminação. Não ajudou muito, mas com o ajuste adequado do flash e da compensação foi possível fazer todas as fotografias externas do imóvel e arredores do local dos exames.

Utilização do flash embutido com incremento da compensação da câmera.

A mesma equipe do IML que recolheu o motociclista do local anterior foi para este local. Daí pude indagar como fizeram um recolhimento sem a fixação da pulseira vermelha (= cadáver periciado).

Fixação da pulseira vermelha.

Na verdade a delegacia plantonista forneceu a pulseira azul, que só é utilizada para vítimas deslocadas para hospitais. Vale dizer que os policiais não se deslocaram até o local para fornecer a pulseira...

Então mais uma vez saí de um local de crime com o conhecimento de que temos colegas desinformados quanto ao uso de materiais e equipamentos para atendimento de locais de crime.

Lixo só no lixo. Não se pode jogar em qualquer lugar. E pulseira de identificação de cadáver, só a de cor adequada para não se frustrar os objetivos dos trabalhos das equipes especializadas. A pulseira vermelha para cadáveres periciados (nos locais de crime ou acidente, p. ex.) e a azul para vítimas de crime/acidente e que chegaram a ser socorridas em hospitais.

O plantão foi exaustivo. Dormi apenas 3 horas e praticamente perdi todo o dia posterior tentando recuperar o sono perdido.

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