terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Plantão de Natal

Muitas pessoas indagam quando um plantão de 24 horas é cansativo ou não. Eu quase sempre responderia com outra pergunta. Sob qual(is) critério(s) estamos avaliando o trabalho?

Para quem gosta do que faz, fica até difícil saber se o indivíduo está trabalhando ou se divertindo! Deixarei que os leitores avaliem a narrativa das atividades do plantão do dia 24 para o dia 25.

Prédio onde funciona a Perícia Oficial de Alagoas.
A equipe estava composta por mim e pelos peritos criminais Cavalcante e Glauco. A equipe da Força Nacional (dois peritos criminais e um papiloscopista) estava à disposição para atender apenas casos de homicídios na região metropolitana na proporção de dois casos para cada um que também atendêssemos. Quaisquer outros casos e em qualquer outra região do Estado de Alagoas eu e meus dois colegas teríamos que dar conta...

Logo cedo houve um chamado a 110 km da capital. Troquei de lugar no rodízio com o Cavalcante, mas mesmo assim fui atender uma colisão bicicleta x veículo automotor no bairro vizinho.

Primeiro local de atendimento - acidente com bicicleta.
O sol estava muito forte e para evitar queimaduras eu me preveni com protetor solar fator 60 no rosto e orelhas! Infelizmente a viatura do IC estava com o ar-condicionado quebrado e assim suei até a extremidade da gravata...

Por volta das 10h30 retornei ao IC. Aproveitei para comprar pilhas para a minha trena eletrônica e aparelho GPS (embora exista uma unidade de cada aparelho na maleta da Senasp, continuo utilizando os meus equipamentos por mera comodidade).

À tarde fiz pesquisas na internet e aguardei a ceia de Natal preparada e organizada pelos próprios plantonistas, notadamente o motorista Messias e sua esposa que cozinhou quase tudo que estava na mesa. Confraternizamos logo às 19h pois não sabíamos como seria o restante do plantão.

Parte da equipe plantonista: da esquerda para a direita: Paula, Luiz, Claudevan, Glauco, Luciana Paulo, Tomohiro, Cavalcante, Ideval, André, Messias e sua esposa Cris.

Ceia viabilizada com a contribuição dos plantonistas.

Confraternização e espírito natalino no plantão.

Às 20h55 começaram as chamadas para o interior. Uma em São Sebastião (122 km) e outra em Piaçabuçu (134 km). Como cada local dista cerca de 75 km entre si, então eu e o Cavalcante saímos juntos numa viatura apenas com o motorista. Eu faria o levantamento fotográfico dos dois locais e voltaria dirigindo a viatura para poupar o motorista.

Segundo local - colisão motocicleta x veículo em rodovia.
(Notícia do fato - clique aqui ou aqui)

Levantamento de homicídio em Piaçabuçu.
(Notícia do fato - clique aqui).
Foram cerca de 327 km fazendo o circuito capital - São Sebastião - Piaçabuçu - capital. Saímos às 21h43 do dia 24 e retornamos ao IC às 4h41 do dia 25.

Ao chegar no IC já havia outra chamada para a capital, mas como eu estava cansado pedi ao colega Glauco para se adiantar no rodízio fazendo a minha vez. Em menos de meia hora apareceu nova chamada para o interior e assim só tive tempo de descarregar os dados dos levantamentos anteriores.

Às 06h07 saímos eu e o motorista para o povoado Ouricuri, município de Atalaia, a 73 km de Maceió.

Terceiro atendimento - homicídio por arma branca.
Eu já havia guiado a viatura por 134 km de madrugada, tentava manter os olhos abertos, mas me peguei várias vezes com a boca aberta e cochilando. O motorista conseguiu dormir duas horas durante a madrugada. Eu passei a chupar confeitos de menta para tentar acordar.

Por volta das 7h30 finalizei o levantamento, e numa região que não tem sinal de celular, iniciamos o retorno para a base do Instituto de Criminalística.

Voltando para o IC às 7h30. Tempo nublado com previsão de chuva.
Faltando meia hora para terminar o plantão recebo uma mensagem de celular do Cavalcante informando que havia novo local e justamente no meu trajeto de retorno. E mais, já era a minha vez novamente no rodízio! Ele havia atendido uma outra chamada em Maceió (notícia do local atendido pelo Cavalcante - clique aqui).

Quarto local de atendimento com chuva fina - viaturas da PRF e do IML.

Vista parcial da colisão de três veículos com duas vítimas fatais no local.
Esse foi um dos plantões que nos mostram que nunca devemos baixar a guarda nem a precaução. Infelizmente faltou uma pulseira de identificação de cadáver para a segunda vítima. Uma segunda viatura saiu do IC e percorreu 31 km para nos levar mais três (precaução, lembra?).

Não havíamos levado guarda-chuvas disponíveis no IC, mas sempre levo um comigo na maleta. Consegui proteger a câmera da chuva que suportou anteriormente a poeira dos canaviais de Piaçabuçu.

Antes de deixar o local, tive o prazer de rever e trabalhar com a equipe do colega Fábio Esperon, agente da Polícia Civil, que conduziu eficientemente a coleta de informações no local junto aos cidadãos e demais profissionais que precisam atender eventos desta natureza.

Por volta das 09h30 deixei o local rumo ao IC, ou seja, já havia extrapolado uma hora e meia além do final do meu plantão. Nem por isso simplesmente passamos pelo IC para voltar para casa. Ainda temos de devolver a viatura e equipamentos que porventura tenhamos utilizado. Precisamos também preencher os relatórios de plantão no sistema SISGOU da Secretaria de Defesa Social de Alagoas:

Janela de login do sistema de informações de Alagoas.
Os levantamentos enumerado nesta publicação foram aqueles que ficaram sob minha responsabilidade. Os outros integrantes da equipe também se responsabilizaram por outros locais. Ao todo, até a última consulta, foram 12 locais de atendimento das 8h do dia 24 até às 8h do dia 25, dia de Natal.

Relatório da equipe plantonista: 12 levantamentos.
Por último, e não menos importante, ainda temos de processar os materiais coletados. Infelizmente isso eu deixei para o próximo expediente. Já passava do meio-dia quando consegui deixar o IC para almoçar com a família no dia de Natal.

Apenas por mim foram percorridos 476,4 km entre idas e voltas de 05 locais de atendimento (sendo um de responsabilidade do Cavalcante), 399 fotografias (sendo 46 do levantamento do Cavalcante), 5 itens coletados para exames (entre eles uma arma de fogo) e vários pertences repassados para os policiais.

A partir daí terei de editar as fotografias, processar os vestígios, solicitar exames complementares se necessário, redigir os laudos e expedi-los junto ao IC/AL.

Infelizmente o feriadão natalino não foi tão calmo em Alagoas (veja notícias dos acidentes aqui e aqui).

O plantão foi cansativo na medida em que particularmente não dormi hora nenhuma, salvo breves cochilos na viatura (quando estava de passageiro!) e só deixei o prédio do IC cerca de 4 horas depois da hora normal de saída.

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