quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O laudo pericial - rotina prática

Numa sequência mais ou menos detalhada da rotina de um perito criminal, expusemos como seria uma abordagem sistemática de local de crime (parte um e parte dois). Durante o levantamento pericial no local de crime os dados são coletados para posterior produção do laudo pericial.

O laudo pericial também possui seu itinerário de produção. Apresentamos uma rotina (clique aqui) e alertamos que a pretensão didática representava uma exposição resumida para melhor compreensão, não exaurindo o tema. Insistimos que a metodologia e conteúdo podem variar para cada instituição, mas sempre obedecendo a legislação penal específica.

Nesta publicação apresentarei uma forma muito pessoal de arquivar e organizar os dados, desde a coleta dos dados até a produção do laudo.

Um esquema básico do fluxo de dados a partir do local dos exames é ilustrado abaixo:

Fluxo dos dados no local dos exames.

Apresentamos quatro canais de dados:

1) aparelho GPS que captura a localização do local. Pode marcar ainda o itinerário até o local e informar distâncias;

2) câmera fotográfica que captura as imagens do local e objetos a serem examinados;

3) formulários impressos que orientam a coleta de dados não mensuráveis por medição de espaços ou captura de imagens, e finalmente;

4) a coleta física de elementos materiais que podem revelar vínculos e informações importantes para o esclarecimento dos fatos. São exemplos: amostras de sangue, instrumentos, objetos, substâncias diversas, etc.

Tanto o GPS quanto a câmera fotográfica geram automaticamente arquivos eletrônicos que transfiro para pastas no computador.

Parte do equipamento que utilizo em local de crime (em 17 de janeiro de 2013).

Cada ano é representado por uma pasta nomeada como "Fotos_(ano corrente)". Veja abaixo a divisão da pasta do ano atual de 2013:


Na pasta "Casos_2013" eu armazeno as pastas de cada caso separadamente. E existe uma regra para nomear cada caso:

Inicio a pasta com o nome "Caso". Insiro underline "_". Digito o número do caso, sempre em quatro dígitos,  fornecido pela instituição logo quando saímos para atender o chamado. Em seguida vem a data, na seguinte forma: dia com dois dígitos, mês em três letras e ano em dois dígitos. Em seguida uma palavra que resuma o caso. A expressão "PAF" significa "homicídio produzido por Projétil de Arma de Fogo". Se for "AB" é "arma branca", "Colisão" é "acidente de tráfego do tipo colisão" e assim por diante. Por último insiro outras palavras, três ou quatro no máximo, para situar onde se deu aquela ocorrência ou que vincule a algum lugar. Se for uma cidade ou bairro da capital, insiro o nome do lugar.

Vejam os exemplos reais do início deste ano abaixo. A seta mostra o primeiro local atendido em 2013 (cujo plantão foi comentado no seguinte link).

Distribuição dos casos em pastas.

Ao retornar do local dos exames, o perito preenche o Relatório de Levantamento Pericial de Local de Crime no Sistema Integrado de Gestão Operacional Unificado - SISGOU.

Tela do Sistema Integrado de Gestão Operacional Unificado.

O relatório é "on-line" e possui campos específicos para serem preenchidos, como por exemplo: tipo da perícia realizada (homicídios, acidente, constatação, etc.), endereço do local, hora da chegada, hora da saída, nome da vítima, nome do policial presente, e vários outros dados.

Veja abaixo uma parte deste relatório:

Vista parcial de um relatório de levantamento pericial gerado pelo SISGOU depois de preenchido.

É neste momento do preenchimento do relatório de levantamento pericial do Sisgou que também preencho uma planilha do aplicativo Excel com dados semelhantes. Esta planilha se encontra na pasta "Modelos_2013" que fica dentro da pasta "Casos_2013". Veja abaixo o conteúdo da pasta de modelos:


Cada ano possui modelos que foram sendo aprimorados ao longo do tempo. Neste ano de 2013 inovei com uma vinculação entre a planilha Excel e modelos do editor de texto Word.

A planilha possui as seguintes colunas:

Número de ordem (sei quantos casos fiz por mês, p. ex.);
Número do caso (é o número que identifica o caso no IC/AL);
Número do BO (identifica o caso no SISGOU);
Número do relatório (controle do SISGOU);
Natureza da ocorrência;
Data da ocorrência;
Hora da chamada;
Hora do início dos trabalhos periciais;
Hora do término dos trabalhos periciais;
Endereço do local dos exames;
Latitude (do local);
Longitude (do local);
Vítimas/objetos (nomes);
Requisitante (da perícia);
Distrito Policial (da autoridade ou plantonista);
Circunscrição (do local);
Auxiliares (equipe pericial);
Isolamento (responsáveis);
Coleta (resumo do que foi recolhido).

Eu ainda acrescento outras informações que são do meu interesse estatístico como, p. ex., a distância percorrida da base do IC até o local (fornecida pelo odômetro da viatura ou mais precisamente pelo GPS).

Vista parcial da planilha Excel com os dados dos quatro primeiros locais de 2013.

Detalhe de separar as planilhas por mês (setas vermelhas).

O preenchimento da planilha, por si só, já organiza os dados dos levantamentos feitos pelo perito. Ganha-se a possibilidade de se apresentar relatórios mensais dos levantamentos efetuados.

A produção do laudo possui uma rotina já vista em teoria numa publicação anterior. Esquematicamente, dentro do IC, passamos a reunir os dados para fazer o laudo, junto com eventuais resultados de exames complementares sobre os vestígios coletados.

Fluxo dos dados dentro do Instituto de Criminalística.

Dentro daquela pasta de modelos, escolheremos o modelo que melhor se adapta ao caso. Tenho três que abraçam a maioria dos casos: morte violenta, tráfego e constatação.

Vejam abaixo como se apresenta a página de rosto do modelo de texto para morte violenta.


Os campos sombreados são os pontos de inserção dos dados da planilha Excel já preenchida. Basta que selecionemos a planilha (estabelecendo o mês) e a linha (estabelecendo o caso dentro do mês) para que o Word gere um novo documento com os dados do caso. Vejam abaixo:


A vinculação entre a planilha e o documento Word não gera todo o laudo, mas preenche automaticamente todos os dados imprescindíveis ao laudo (endereço, data, hora, nome dos envolvidos, etc.).

Para alguns colegas que ainda não adotaram a técnica de reservar um texto-modelo para fazerem seus laudos, esta é uma ideia que se presta a garantir grande homogeneidade entre seus laudos. Se adotada a técnica dentro de um grupo de trabalho, a padronização seria bem privilegiada. Além disso, todos teriam possibilidade de apresentar relatórios consistentes de suas atividades. O controle fornecido auxilia na gestão geral dos recursos de um instituto de perícias.

O laudo ainda se apresenta como um grande texto, sem fotos e sem croquis. Veja abaixo como ele se apresenta:

Texto do laudo gerado com a vinculação (excesso de texto e ausência de fotografias).

O "texto-base" do modelo possui um amontoado de parágrafos genéricos que contemplam diversas situações que o perito geralmente constata em locais de morte violenta. Ele precisa selecionar quais parágrafos deve excluir e quais deve adequar.

A inserção de fotografias é um capítulo à parte. Alguns colegas inserem as imagens "brutas". Ou seja, sem qualquer compactação ou edição conforme a necessidade do texto do laudo. O arquivo final fica imenso, mas é prático.

No meu caso eu faço uma edição prolongada onde obtenho um material leve e mais bem ilustrado, mas demanda muito tempo. Explicarei posteriormente.

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