segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Plantão do dia 06 de janeiro

O dia 06 era uma segunda-feira e, como todo dia útil, muito trânsito e movimento de pessoas.

O primeiro chamado (acidente de trânsito) foi para o município de São José da Laje (96,7 km de Maceió) que é pouca coisa mais perto que Ibateguara, que eu havia visitado no plantão anterior.


Acima vista do acesso de São José da Laje e placa indicativa de distância, já no acesso.

Abaixo, diagrama ilustrando o perfil horizontal da via proporcionado pelo programa Mapsource do fabricante do aparelho GPS, a Garmin. E ao lado a vista de satélite proporcionado pelo programa Google Earth, gratuito pela internet.


Estes recursos são excelentes auxílios na visualização do local e complemento dos croquis. Tanto que denomino estas imagens como "croquis" em meus laudos, com explicações disso inclusas no texto do laudo.


Muito antes de chegar ao local fico atento para o entorno. Neste caso foi possível uma visualização a grande distância pelo fato de o acesso ser em zona rural, sem muitas edificações nem mata alta. Vejam foto acima.


No local pudemos coletar (entenda-se: fotografar) diversos sinais da saída de pista do veículo (motocicleta). E um dos vestígios me chamou a atenção: arrastamento de tecido na superfície cimentada do passeio para pedestres (segunda imagem acima localiza o arrastamento e na imagem abaixo o detalhe dos fios deixados sobre o cimento).

Fios de tecido (jeans) deixados pelo arrastamento sobre a calçada.

Finalizado o levantamento, fotografei a saída do acesso ao município, e lembrei que havia uma placa que indicava o nome daquela via. Mesmo com a viatura em movimento (não solicitei ao motorista que parasse) fiz uma foto voltado para trás, de dentro da viatura, e registrei o nome da rodovia.


Conforme eu disse, dia 06 de janeira era uma segunda-feira. Maceió estava em movimento e, próximo do meio-dia, o trânsito estava caótico na principal artéria de Maceió.

No meio do trânsito, as "boas vindas"!

Seja bem-vindo a Maceió!

No meio da tarde fomos chamados para um homicídio, ocorrido em plena luz do dia, em um bairro com grande movimento de pessoas e comércio. Não havia equipe da perícia da Força Nacional de plantão neste dia, então a perícia "local" foi solicitada.

Logo na chegada pude constatar a presença de duas guarnições da polícia militar. Na foto abaixo vê-se 08 (oito) militares custodiando o local (cadáver no primeiro plano indicado por seta vermelha).

Isolamento formal do local de crime (perímetro reduzido).

Mas tive acesso a uma imagem pelas redes sociais de alguém que passava no local logo após a ocorrência e antes da chegada da polícia militar. Então vejam o quanto se pode perder no intervalo entre a ocorrência e a chegada da PM.

Muitos populares se aglomeram ao redor do cadáver, numa proximidade que possibilita muitas alterações no local (destruição de rastros, subtração e deslocamento de vestígios importantes, etc.).

Imagem do local obtida pelas redes sociais.

A vítima foi alvejada por pelo menos 10 (dez) disparos de arma de fogo. Além disso foi arrastada por pelo menos quarenta metros do logradouro com a aparente intenção de ser exibida na via de maior movimento do bairro.


Marcas de arrastamento numa extensão aproximada de 40 metros.

Vista aproximada da imagem acima ilustrando o isolamento físico da PM.

Também pela internet pude obter outras imagens da ocorrência (imprensa). Imagens das quais eu mesmo apareço fazendo o levantamento!



Na última imagem é possível ver toda a "equipe pericial": eu, que fotografo, e o motorista, que auxilia na manipulação do cadáver. Algumas vezes, valho-me também da equipe do Instituto Médico Legal para manipular o cadáver.

Já tivemos equipes periciais com quatro indivíduos (perito 1, perito 2, motorista e fotógrafo), mas com a mudança legislativa e a diminuição do quadro de funcionários, temos feito levantamentos com dois indivíduos.

Posso dizer que, em algumas poucas e raras vezes, o levantamento fica lento, mas não prejudicado. Consigo cobrir fotograficamente todos os itens exigidos para o laudo e, como se vê ao longo deste blog, outros itens de cunho pedagógico, de pesquisa e de enlevo também.

Ao final do levantamento, voltamos para o IC, mas por volta das 22 horas estávamos em outra ocorrência de homicídio por PAF na parte alta da cidade.

Terceira ocorrência do plantão do dia 06 de janeiro: terreno baldio.

Terreno baldio, à noite. Vantagem: ausência de curiosos. Desvantagem: ausência de luminosidade. Solução: ajuste adequado da câmera fotográfica e uso de lanternas de mão.

Percebam que na imagem acima a vista é panorâmica (viatura, cadáver e linha de residências ao fundo). Já na imagem abaixo temos o assunto ainda contextualizado (cadáver no terreno e linha de residências ao fundo), mas com uma aproximação maior (na frente da viatura da PM).

O ajuste da câmera produziu até um céu claro! (exposição longa).

Enquanto a vítima anterior suportou dez disparos ao longo do corpo, esta teve nove disparos somente contra a cabeça e todos pela face direita (vide croqui abaixo).


Ainda neste local tivemos notícia de outro homicídio. Como eu também disse, não era dia da perícia da Força Nacional e nós, da perícia "local" continuamos com a mesma equipe de investigação da Força Nacional e partimos dali para o município vizinho, integrante da zona metropolitana.

Tentei ajustar a câmera para registrar pouca luz em movimento, mas só obtive alguns "borrões" do itinerário até Rio Largo. A investigação da Força Nacional se dirigiu com bastante rapidez até este local.


Rio Largo é um município de ruas estreitas e com muitas ladeiras. A viatura do IML não estava bem para aguentar o esforço e teve pane elétrica.


De imediato a equipe ligou para nosso supervisor que, mesmo de madrugada, se dirigiu até o local e deu apoio a equipe do IML. Os colegas do IML foram na nossa viatura até o local dos exames para não atrasar o atendimento e depois foram recuperar o veículo.

Nos reunimos, viatura da PM, da Polícia Civil (Força Nacional) e a nossa (IC), na entrada do logradouro onde seriam os exames (a rua não tinha saída).

A foto abaixo foi obtida sem uso de flash, mas com os ajustes adequados à baixa luminosidade (ISO 3200, f 1/3.5, tempo de exposição 1/2, etapa +0.7, objetiva 18 mm). Tudo sem tripé (geralmente prendo a respiração para diminuir a oscilação!).

Fotografia em baixa luminosidade (indicação da residência examinada).

Uma escoriação e três disparos de arma de fogo atingiram a vítima.


O disparo contra o antebraço não chegou a penetrar. O encamisamento do projétil ficou alojado na superfície da pele.

O registro fotográfico deve contemplar esta situação e ilustrar bem o ferimento resultante. É o que está exposto na sequência abaixo:

Ferimento como constatado no início do levantamento.

Ferimento "tratado" para registro fotográfico da lesão.

Perceba-se que não se trata apenas de localizar os ferimentos. Isso deve e será feito. Mas o registro das diversas situações é importante para traçar a dinâmica do evento (registro dos efeitos primários e secundários do disparo, alojamento de artefato, efeitos "especiais" do disparo, etc.).

Para os dois primeiros e consecutivos plantões do ano, atingi um pequeno recorde. Foram:

07 (sete) levantamentos, no interior e na capital;
718 fotografias totais (exclusivas do levantamento);
279 fotografias distribuídas para os laudos;
91 páginas de laudos (até o momento só elaborei quatro laudos dos sete levantamentos), e;
277 quilômetros percorridos de ida aos locais (sem contabilizar o retorno).

Apenas em junho do ano passado fiz algo semelhante em dois plantões consecutivos (veja: São João).

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