quinta-feira, 11 de maio de 2017

Plantão do dia 7 - começando pela manhã

Dez minutos depois de iniciado o plantão do domingo e já tínhamos ocorrência para atender.

Município de Barra de São Miguel, homicídio dentro de residência. Instrumento contundente, mas não só.

Mancha de sangue produzida por espargimento sucessivo.

Da porta do pequeno imóvel (três ambientes), visualizava-se a enorme mancha de sangue mostrada acima.

O agressor utilizou um halteres artesanal, feito de cimento, para atingir a vítima deitada sobre um colchão e apenas na cabeça. Mas também utilizou um segmento de caibro de Massaranduba (madeira dura e pesada) e a ponta de uma chave Philips. Estes dois últimos instrumentos impactados na região peitoral.

Instrumentos utilizados pelo agressor.

A ampla área do halter não surpreende quanto às lesões na cabeça: vários afundamentos. O caibro poderia produzir víbices, que são lesões interessantes de se registrar. Mas o que me chamou a atenção foi registrar o ferimento produzido pela chave Philips.


(Clique nas imagens para ampliar)


Nas imagens acima, vê-se a extremidade do instrumento e três dos ferimentos produzidos na região esternal da vítima.

Registrar lesões é parte integrante do levantamento pericial de local de crime. Irá ilustrar o laudo e oferecer subsídios para o julgador avaliar a conduta do agressor. Mas também serve para "educar" a vista do perito. Ao longo do tempo inevitavelmente armazenaremos estas situações na memória, mas, se pudermos fazer um arquivo de imagens físicas, não só é possível refrescar a memória como também compartilhar com colegas e futuros peritos.

O espargimento de sangue foi abundante e praticamente tomou todas as superfícies e objetos que estavam no primeiro cômodo do imóvel.

A maneira usual de registrar fotograficamente a cena é tirar várias fotos de todas as superfícies relevantes. No entanto, aproveitei para fazer uma mesclagem digital de imagens.


Acima e à esquerda, a sequência de quatro imagens originais. No meio, a mesclagem feita pelo Photoshop. À direita, a imagem final redimensionada (clique nas imagens para melhor visualização).

A principal vantagem é suprir a ausência de uma objetiva grande angular. Mesmo utilizando uma de 18 mm não era possível oferecer o ângulo de visão apresentado pela imagem acima.

Fiz uma outra sequência de nove imagens para demonstrar a "construção" de uma visão de 180 graus:


A imagem acima é o resultado direto da mesclagem feita pelo aplicativo. É possível ver a soleira e o batente superior da porta.

Abaixo outro exemplo de mesclagem do mesmo ponto de vista: a partir da porta principal do imóvel, mas já no sentido horizontal.



Em alguns menus e aplicativos estas imagens são chamadas de "panorama". Dão uma sensação de imersão no local. Imitam o olhar humano. Certamente as filmagens são um passo adiante desta tentativa de trazer a cena de crime para o julgador, mas no caso, estamos falando em ilustrar um laudo, seja no papel, seja na tela de um monitor.

O efeito pode ser obtido ainda mais facilmente com os inúmeros recursos dos atuais aparelhos celulares, mas teríamos de discutir a segurança da imagem. Deixemos para outro momento.

Fizemos várias outras fotos do local. O levantamento inteiro tomou 212 fotografias.

Ainda bem que o ambiente era pequeno e a dinâmica da ação violenta não foi confusa. O agressor praticamente ficou parado golpeando a vítima.

Recolhimento do cadáver pelo IML. Curiosos próximos, infelizmente.

Retornamos para a base, mas ainda tive outras duas ocorrências, à noite e fora de Maceió, para atender.

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