segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Plantão do dia 24 de fevereiro

Era uma vez um plantão, um perito e uma vítima.

Acionado, chamei o motorista e segui 73 km até o local.

Curiosamente o BO não estava muito claro quanto ao local exato, mas a prática manda perguntar pelo caminho, aos transeuntes e, melhor que ninguém, ao PM instalado em seu "box" na beira da rodovia estadual. O local foi para dentro das canas (de açúcar), na zona rural. Disseram que o motorista bebeu e sobrou na curva.

Onze quilômetros para fora da rodovia, cheguei, eu e o motorista, sozinhos no local. Sozinho é forma de dizer. Os curiosos, passantes e sitiantes já estavam lá. Empoleirados na beira da estrada larga de terra batida ao lado da camionete tombada e do corpo estendido.

Desci, fotografei (a primeira fotografia), marquei o ponto de GPS, ajeitei o boné e olhei pra frente. Nenhum soldado. Nenhum policial. Nenhum rabecão! Cadê todo mundo? Valha-me Deus! Abandonaram José!

De costas para o cadáver e diante de uns 25 homens e duas mulheres perguntei quem chegou primeiro no local. Quem estava ali há mais tempo. Nenhum pio. Perguntei de novo quem me chamou, explicando que só atendo "puliça" e só vou para local que o "dotô" (delegado) está presente. De repente, não entre os sitiantes e cortadores de cana pois são gente muito simples, um motorista que ali ficou porque prendeu a chave do veículo dentro do próprio carro, disse que estava já a uma hora tentando abrir o carro dele e não viu ninguém. Outra vozinha no escuro também confirmou. Fui soltando perguntas insensatas como quem não quer nada e as histórias foram saindo. Eis que o perito vira policial.

A vítima tinha apelido de confeito. Só a tia conhecia pelo primeiro nome. Um sobrenome foi mencionado. Ninguém tinha certeza, mas do apelido todos conheciam.

Era dado a desenvolver alta velocidade. Não se sabe o porquê.

É bem verdade que vinha duma festa. Tinha umas duas latinhas de cerveja pela pista e pelo mato, mas com tanto festeiro no local eu não podia relacionar.

O acidentado também tinha esposa. Ex-esposa, diga-se de passagem. Parece que azucrinava o marido (ou vice-versa) e ele, chateado, desembalava por ali para visitá-la na cidade vizinha.

Se foi bebida + volante ou se foi ciúme + volante eu não sei. Sei que o veículo capotou. Inicialmente sobrou numa curva. Foi jogado para o outro lado da pista e tombou de vez fora dela.

A falta do uso de cinto colaborou, talvez decisivamente, no óbito da vítima.

Não era José nem confeito. Era nome de santo. Mas talvez de santo não tivesse muito. A vida desregrada ou atabalhoada lhe rendeu prisão "corretiva". Não tinha 20 dias que experimentava liberdade. E justo naquela noite livrou-se de todos os problemas.

Problema ficou comigo, que não tinha a quem reportar guarida do corpo.

Fiquei sem sinal de rádio, sem sinal de telefonia e sem sinal de viva alma do funcionalismo público ostensivo de rua e investigativo das fatalidades da população. Mas fiquei até chegar o comboio. (O Estado tarda, mas não falha?!). Veio PM, veio civil, veio até IML.

Abraçei a pulseira de identificação no tornozelo. Entreguei as guias de identificação. Liberei o local.

Lá pelas tantas, tirei umas fotos para mostrar para o pessoal da cidade o quanto o interior, às vezes, é longe de tudo e de todos.

Foto sem flash, aproveitando o farol aceso de um
veículo que transitava pelo local bem a meu lado!

Ainda sem flash, utilizei uma lanterna de mão.

De novo sem flash, usei a luz natural com longa exposição.

Mesma foto anterior, mas com tratamento de imagem (Photoshop).

Foram 70 fotografias. Uma hora de espera. Outra hora de conversas e perícia. Cheguei no IC quase meia-noite. Sem ter jantado...

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